Mostrar mensagens com a etiqueta Poesia. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Poesia. Mostrar todas as mensagens

12 de novembro de 2023

Retrospetiva (MIBE) - Apresentação de 𝐒ú𝐛𝐢𝐭𝐨

No dia 17 de outubro, na biblioteca escolar, jorraram PALAVRAS. Palavra?
Umas ditas, outras lidas. Palavras amigas, sentidas, trocadas, saboreadas, poéticas pela voz doce e encantadora de Ana Zorrinho.
Quatro turmas assistiram à apresentação de Súbito, o seu último livro de poesia. Durante a sessão, as suas palavras ecoaram e cativaram os presentes e delas, das ditas, tiraram ensinamentos, das lidas, enlevo!  De todas, algumas ideias para futuros trabalhos de arte! 
Bem haja Ana Zorrinho pelo sorriso, pela disponibilidade e pelas PALAVRAS.


____________súbito


Viajámos
Em súbito ímpeto de amar
Escalada sem (h)a ver chão
Num único fôlego
Súbito
Ímpeto
Um

a querer outro
Os dois
Sós
A quererem(-se)?
Não estar
Só...
E foi só
Queda
Súbito...Ímpeto.





 







13 de junho de 2023

Hoje é dia de recordar Al Berto

 


no exíguo espaço do corpo ou da casa
tentas perpetuar a forma dos dos brinquedos acesos
por um misterioso cordel de poeira luminosa

sabes como é falso o tempo das imagens
dos gestos inacabados que te evocam o rosto
perdido no confuso sémen dos sonhos

e ao anoitecer adquires nome de ilha ou de vulcão
deixas viver sobre a pele uma criança de lume
e na fria lava da noite ensinas ao corpo
a paciência o amor o abandono das palavras
o silêncio
e a difícil arte da melancolia

Al Berto, in o livro dos regressos


11 de novembro de 2022

Tecendo Vida na escrita e na voz de Ana Zorrinho

 Tecendo Vida


Com os dedos enrolam-se os fios na agulha em voltas contadas,

tece a vida, aninhada no sofá.

Tece nas voltas da vida aquela que brota em si.

Uma camisolinha de lã.

Branca…

Tão branquinha.

Sorri sozinha, os momentos seus.

Com os dedos enrolam-se os fios na agulha em voltas contadas,

tece a vida, sentada no sofá.

Tece nas voltas da vida para o que brota do que de si brotou.

Uma mantinha.

Rosa,

Tão clarinha…

Sorri sozinha, os momentos seus.

Com os dedos enrolam-se os fios na agulha em voltas contadas,

desfia a vida, arqueada no sofá.

Pranta sozinha, os momentos seus.


Histórias de um tempo só, Ana Zorrinho, Ilustrações de Raquel Ventura, Caleidoscópio





13 de junho de 2022

Al Berto - 25 anos (11.01.1948 | 13.06.1997)

 


18 Sábado / Fev 1984                                           rua do Forte / Sines


Passei a manhã a observar-me ao espelho. Procurar um indício de morte sobre o rosto, eis a minuciosa tarefa. Nada por enquanto. Nada se vislumbra. O melhor será passar o dia sentado no terraço, o mar está picado, uma dor inexplicável nas mãos. Um vómito profundo. Sinto-me demasiado pequeno para suportar o dia. E se a morte me indicasse que chegaria? Tudo se tornaria mais fácil, arrumaria com tempo os meus papéis, os meus livros e discos, escreveria as últimas vontades, deitaria fora muita coisa, e sentar-me-ia à espera.

in Diários (p. 94)



13 de junho de 2021

Quando Aqui Não Estás | Poema de Al Berto com narração de Mundo Dos Poemas

 Al Berto

Nasceu a 11 Janeiro 1948 (Coimbra, Portugal) |  Morreu a 13 Junho 1997 (Lisboa)




Quando aqui não estás
o que nos rodeou põe-se a morrer
a janela que abre para o mar
continua fechada só nos sonhos
me ergo
abro-a
deixo a frescura e a força da manhã
escorrem pelos dedos prisioneiros
da tristeza
acordo
para a cegante claridade das ondas
um rosto desenvolve-se nítido
além
rasando o sal da imensa ausência
uma voz
quero morrer
com uma overdose de beleza
e num sussurro o corpo apaziguado
perscruta esse coração
esse
solitário caçador

21 de março de 2021

Dia Mundial da Poesia






As Mãos Pressentem

As mãos pressentem a leveza rubra do lume
repetem gestos semelhantes a corolas de flores
voos de pássaro ferido no marulho da alba
ou ficam assim azuis
queimadas pela secular idade desta luz
encalhada como um barco nos confins do olhar
ergues de novo as cansadas e sábias mãos
tocas o vazio de muitos dias sem desejo e
o amargor húmido das noites e tanta ignorância
tanto ouro sonhado sobre a pele tanta treva
quase nada

Al Berto

6 de novembro de 2019

Sugestão de leitura



Para assinalar os 100 anos do nascimento de Sophia nada melhor do que ler a sua obra. Volto regularmente à sua poesia. Tudo nela faz sentido. É uma poesia sensível, escrita de forma clara, com palavras certas e concretas. Neste primeiro volume, o mar cruza a sua obra. O mar como lugar de liberdade. O mar associado a outros elementos como praia, noite, jardim, deuses, heróis, cidade (como oposição, como “vida suja”), casa, vento, sentimentos, poemas… 

As ondas quebraram uma a uma 
Eu estava só com a areia e a espuma 
Do mar que cantava só pra mim. 


Aparentemente simples, a sua escrita capta o real, é crítica e interventiva. Claro que a sua interpretação é subjetiva, depende de quem lê e de como se lê. Porém, surpreendente e emocionante porque o leitor, apesar da sua interpretação não consegue discernir o real do imaginado. 

Esgotei o meu mal, agora 
Queria tudo esquecer, tudo abandonar 
Caminhar pela noite fora 
Num barco em pleno mar. 

Mergulhar as mãos nas ondas escuras 
Até que elas fossem essas mãos 
Solitárias e puras 
Que eu sonhei ter. 

Recomendo-vos Sophia! Eu, voltarei! Porque gosto do seu apelo! 

Nas praias que são o rosto branco das amadas mortas 
Deixarei que o teu nome se perca repetido 

Mas espera-me: 
Pois por mais longos que sejam os caminhos 
Eu regresso.


Graciosa Reis
Professora Bibliotecária

2 de novembro de 2019

Centenário do nascimento de Jorge de Sena





Os Trabalhos e os Dias

Sento-me à mesa como se a mesa fosse o mundo inteiro
e principio a escrever como se escrever fosse respirar
o amor que não se esvai enquanto os corpos sabem
de um caminho sem nada para o regresso da vida.

À medida que escrevo, vou ficando espantado
com a convicção que a mínima coisa põe em não ser nada.
Na mínima coisa que sou, pôde a poesia ser hábito.
Vem, teimosa, com a alegria de eu ficar alegre,
quando fico triste por serem palavras já ditas
estas que vêm, lembradas, doutros poemas velhos.

Uma corrente me prende à mesa em que os homens comem.
E os convivas que chegam intencionalmente sorriem
e só eu sei porque principiei a escrever no princípio do mundo
e desenhei uma rena para a caçar melhor
e falo da verdade, essa iguaria rara:
este papel, esta mesa, eu apreendendo o que escrevo.

Jorge de Sena