18 Sábado / Fev 1984 rua do Forte / Sines
Passei a manhã a observar-me ao espelho. Procurar um indício de morte sobre o rosto, eis a minuciosa tarefa. Nada por enquanto. Nada se vislumbra. O melhor será passar o dia sentado no terraço, o mar está picado, uma dor inexplicável nas mãos. Um vómito profundo. Sinto-me demasiado pequeno para suportar o dia. E se a morte me indicasse que chegaria? Tudo se tornaria mais fácil, arrumaria com tempo os meus papéis, os meus livros e discos, escreveria as últimas vontades, deitaria fora muita coisa, e sentar-me-ia à espera.
in Diários (p. 94)
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