11 de novembro de 2023

Retrospetiva - Um livro, uma comunidade (MIBE)



No dia 25 de outubro, realizou-se mais uma tertúlia, a primeira deste ano letivo e a integrar o programa do Mês Internacional das Bibliotecas Escolares (MIBE).
O tema desta sessão recaiu sobre romances  que viraram filmes (adaptações). Estiveram presentes 22 tertuliantes: oito alunos, dois funcionários, dez docentes, uma psicóloga e uma ex-professora. Como foram lidos livros diferentes (ver apresentação abaixo) a conversa foi muito e animada e motivadora para novas leituras  e  para os novos "tertuliantes" as opiniões e as "leituras" apresentadas tornaram-se  muito positivas na medida em que descobriram novos autores. Como já é habitual, finalizou-se a tertúlia com chá e bolinhos.

Para a tertúlia de novembro, a realizar na Semana da Escola, vamos ler, como habitualmente, um livro do patrono, ficou decidido que seria Uma Existência de Papel.



Livros lidos e apresentados 





Opinião

O Sentido do Fim, de Julian Barnes

Eram muitas as expectativas, pois foi-me recomendado por gente que aprecia bons livros. Não desiludiu. Pelo contrário, 𝑶 𝑺𝒆𝒏𝒕𝒊𝒅𝒐 𝒅𝒐 𝑭𝒊𝒎 deixou marcas e vontade de ler outros. Já tinha lido 𝑶 𝑷𝒂𝒑𝒂𝒈𝒂𝒊𝒐 𝒅𝒆 𝑭𝒍𝒂𝒖𝒃𝒆𝒓𝒕, também muito bom, mas este supera-o pelas reflexões que incute e no vazio que deixa no leitor.

O protagonista, Tony Webster, já aposentado, recebe uma missiva que, ao lê-la, vai desencadear um rememorar de todo o seu passado. O tempo da sua juventude com colegas, amigos e namoradas; o casamento, o divórcio,… É o balanço de toda uma vida e que no final não se revela nada positivo.
O teor da carta vai revelar-se surpreendente e enigmático. À medida que vai desvendando o mistério da carta e que não vou revelar, as memórias adensam-se e percebe que cometeu erros que já não consegue nem poderá emendar.
“Se já não posso ter a certeza dos factos reais, posso ao menos ser fiel às impressões que esses factos deixaram. É o melhor que consigo fazer.” (p. 12)

É na condução da apresentação das situações e da reflexão que cada uma espoleta no protagonista, que Julian Barnes, é exímio.
Escrito na primeira pessoa, e com recurso a uma analepse de mais de 40 anos, esta narrativa prende e inquieta o leitor desde o início. A escrita, sublime, sensível e profunda, que tão bem patenteia o estado de espírito e o pensamento do protagonista, vai impor-se ao leitor que a lê avidamente numa ânsia pela descoberta do final como para libertar o protagonista da agitação e da dúvida que o consomem.

Barnes dá-nos uma lição brutal sobre a importância do tempo que tece falhas na memória à medida que o homem envelhece. Na narrativa, ele desenvolve o tema da morte, foca-se nas circunstâncias e naquilo que ficou na memória do protagonista, para o (nos) levar a concluir que a “vida não é só adição e subtração. Também há acumulação, multiplicação da perda, do fracasso” (p. 108) e remorso.

Recomendo vivamente a leitura deste livro. Para convencer os ainda renitentes transcrevo um excerto, que considero sublime, e que sintetiza o entendimento de Barnes sobre a irreversibilidade do tempo ao longo da vida: “Vivemos no tempo – ele contém-nos e molda-nos – mas nunca senti que o compreendesse muito bem. E não me refiro a teorias sobre o modo como cede, recua e dá meia volta, ou poderá existir algures em versões paralelas. Não, falo do tempo comum, quotidiano, que os relógios de pulso e de parede nos garantem passar regularmente. Existe algo mais plausível do que um ponteiro de segundos? E todavia basta a menor dor ou prazer para nos ensinar a maleabilidade do tempo. Há emoções que o aceleram, há outras que o abrandam. Às vezes parece desaparecer – até ao ponto em que desaparece mesmo, para nunca mais voltar. (p. 12)


Graciosa Reis


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