29 de novembro de 2021

Um Livro, Uma Comunidade - Al Berto


No dia 25 de novembro, integrando a Semana da Escola, realizou-se mais uma tertúlia, a segunda neste ano letivo. Para ler e dar a conhecer o patrono, a obra selecionada foi A Secreta Vida das Imagens, de Al Berto.
Foram realizados dois encontros devido à organização dos horários decorrente das normas de segurança, ainda em vigor, seguidas do já habitual e aconchegador lanche literário composto de chá e bolinhos.

Para esta tertúlia foi convidado o Sr. Vice-presidente da Câmara Municipal de Sines, Fernando Ramos e compareceram também dez docentes, uma aluna e uma funcionária.
A conversa foi animada sobre o patrono. A presença de Fernando Ramos, que conviveu de perto com o poeta, enriqueceu o encontro da tarde. Cada tertuliante deu a sua opinião sobre a obra lida e leu um ou dois poemas. Sendo um livro pouco conhecido/lido, foi uma boa aposta, na medida em que permitiu conhecer uma faceta diferente do autor.

No final, ficou decidido que para a próxima tertúlia, a realizar em janeiro, iríamos comemorar o Centenário de José Saramago, lendo por isso um livro do autor, ficando ao critério de cada um a sua escolha.





Opinião 

𝑨 𝑺𝒆𝒄𝒓𝒆𝒕𝒂 𝑽𝒊𝒅𝒂 𝒅𝒂𝒔 𝑰𝒎𝒂𝒈𝒆𝒏𝒔 é uma coletânea de poemas inspirados num conjunto de obras de artistas clássicos e contemporâneos, nacionais e estrangeiros que o autor amava e que de certa forma o desassossegavam na medida em que contribuíram para o seu “modo de viver e de ver o mundo.”
Dividido em três partes, o livro apresenta os poemas por ordem cronológica dos autores das obras de arte e cada poema é acompanhado por uma imagem representativa de uma pintura, escultura, instalação, fotografia dos artistas plásticos em causa.
A primeira parte é constituída, apenas, por três poemas que aludem a três pintores (Giotto, Fra Angelico e Zurbarán) que viveram entre os séculos XIII e XVII (renascimento – barroco)
A segunda parte contém nove poemas e nove reproduções de obras, sendo oito pinturas e uma fotografia. São artistas (de Cézanne a Warhol) do século XIX e XX e que integram os movimentos do pós-impressionismo e modernismo (nos seus variadíssimos -ismos).
A terceira parte inclui catorze poemas e imagens de representações artísticas: oito pinturas, três esculturas, duas instalações e uma fotografia. Este conjunto integra exclusivamente trabalhos de autores portugueses nascidos a partir de 1914, iniciando com António Dacosta e terminando com Rui Chafes.
A interação entre a escrita – a literatura - e as restantes artes enriquece e intensifica os significados entre a vida vivida do poeta escritor e a obra e a vida do artista em destaque no poema. A relação entre o EU e o Outro; Eu, poeta/Outro, artista, torna-se mais complexa e de difícil interpretação na medida em que nem sempre se descortina quem é quem. Mas é esta mescla de vivido (autor) e observado (artistas) em que todos verbalizam a sua experiência criadora que tornam estes textos singulares e pluralistas.
Também nesta coletânea, Al Berto assumiu a sua vivência, a sua personalidade e entrelaça-as com o Eu do poema, isto é, com a biografia do artista. E ao propor uma determinada cronologia e uma seleção dos artistas e das suas obras, Al Berto acaba por emitir uma opinião própria e oferecer ao leitor a sua preferência artística.
É sempre com um prazer renovado e com novas descobertas que releio os livros de Al Berto.

Falso retrato de Andy Warhol

não penso
transcrevo conversas telefónicas ou falo
com a noite de New York
ou não falo e gravo a voz dos outros filmo
obsessivamente a morte
ou não filmo e multiplico cadeiras eléctricas
excito-me
sou o centro do mundo dos outros e
não existo
ou é a vida que me atravessa o sexo
e finjo a morte ou cintilo
como o diamante

Graciosa Reis

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