18 de dezembro de 2023

Um Livro, Uma Comunidade - tertúlia literária



No dia 22 de novembro, realizou-se mais uma tertúlia, a segunda deste ano letivo e a integrar o programa da Semana da Escola. 
O tema desta sessão recaiu incidiu naturalmente em torno do nosso patrono, mais concretamente sobre os poemas que incluem a obra Uma existência de papel.
Estiveram presentes 14 tertuliantes: dois alunos, dois funcionários, dez docentes. 
A conversa foi animada e motivadora com leituras diversas de poemas. Para alguns dos presentes foi a descoberta da sua poesia e para outros uma revisita à sua escrita.
Como já é habitual, finalizou-se a tertúlia com chá e bolinhos.
Para a tertúlia de Janeiro, vamos ler obras cujos temas incidam em viagens. 
 Será apresentada uma lista de sugestões de livros. 





Opinião

Uma Existência de Papel, de Al Berto


Todos os anos, neste mês, volto obrigatoriamente a Al Berto, o meu poeta.
Desta vez a escolha recaiu no livro Décimo Primeiro (1984/85) - Uma Existência de Papel.

É sempre com enorme prazer que o (re)leio. Mesmo tratando-se de uma releitura, descubro novas confissões, sinto novas e intensas emoções. Nunca permaneço indiferente e, por vezes, é-me mesmo doloroso reter, dos seus versos, a intensa solidão, a melancolia profunda e permanente e o silêncio desolador (“é no silêncio/que melhor ludibrio a morte”) que se revelam através da perda, da ausência e do medo.
Para Al Berto escrever é viver. É a folha de papel que lhe dá ânimo para existir.
“ então a vida abater-se-á sobre a folha de papel/ onde verso a verso/ me ilumino e me desgasto” (Meu único amigo - 6).

Há, neste livro, resquícios de uma existência fulminante, de excessos, de paixões, de transgressão, mas também de vazios lancinantes, de memórias de viagens, de vivências, de lugares, de partidas, da criança que foi.
“eis-me acordado/ com o pouco que me sobejou da juventude nas mãos/ estas fotografias onde cruzei os dias/ sem me deter/ e por detrás de cada máscara desperta/ a morte de quem partiu e se mantém vivo.”

Gostaria ainda de destacar, porque é também um dos meus poetas, a referência num poema, o penúltimo deste livro, a um dos seus “fantasmas literários”. Rimbaud é um dos seus modelos estruturadores, por excelência. Este poema é um auto-retrato de Al Berto com alusões metonímicas a Rimbaud (Alexandria, Harrar) e com a indicação dos trinta e sete anos de idade – a idade do poeta francês quando morreu – revela um propósito de identificação com o seu destino. A biografia de Rimbaud confunde-se com a de Al Berto.

“embebedavas-te
(…)
escuta
a partir de hoje abandono-te para sempre
ao silêncio de quem escreve versos
em Portugal
tens trinta e sete anos como Rimbaud
Talvez seja tempo de começares a morrer!

Assim, pode-se aferir, após a leitura deste décimo primeiro livro, que a vida de Al Berto parece conter-se a uma existência de papel na medida em que se regista a necessidade urgente de condensar sensações, vivências, memórias e imagens através da escrita. Pelo que o espaço privilegiado em que o “eu” se estabelece é o “papel”
“mais nada se move em cima do papel/ nenhum olho de tinta iridescente pressagia/ o destino deste corpo” (Eremitério – 5)


Graciosa Reis 



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