17 de abril de 2023

Um Livro, Uma Comunidade - Tertúlia


No dia 29 de março, realizou-se a quarta  tertúlia do ano letivo, tendo a conversa e a partilha de leituras incidindo sobre as obras do escritor João Pinto Coelho, uma vez que contaremos com a sua presença no dia 26 de maio. Facultaremos mais informação em tempo útil.  

Contudo, esta tertúlia saiu um pouco fora da norma, uma vez que havendo duas "tertuliantes" que festejavam o seu aniversário, fomos surpreendidos pela voz suave e incomparável da Ana Zorrinho que leu dois poemas: um de António Gedeão e outro da Natália Correia. Foi um momento emocionante.

Estiveram presentes quatro alunos, uma encarregada de educação, uma assistente operacional, nove docentes, uma técnica especializada, uma psicóloga, uma ex-aluna e uma ex-professora.
A conversa foi animada e motivadora porque quantos mais leitores, mais diversas são as partilhas e enriquecedoras porque todas diferentes.  Para alguns dos presentes foi a descoberta do autor para outros foi o reanimar a memória de livros lidos anteriormente. 
Finalizou-se a tertúlia com chá e dois deliciosos bolos e como também é habitual, para este momento surgem sempre mais uns pretensos "tertuliantes".   


Para a tertúlia de maio, vamos ler romances históricos. A equipa apresentará algumas sugestões.



Opinião 


Mãe, Doce Mar, de João Pinto Coelho



João Pinto Coelho é cada vez mais um dos meus autores de eleição. Já me (nos) habitou a romances fortes, emotivos, marcantes e com finais surpreendentes, pelo que peguei neste livro com uma enorme expectativa porque era o seu novo livro que aguardava com ansiedade e porque já havia ecos muito positivos e que anunciavam novidades, mudança de tema. Mais curiosa e expectante fiquei quando o ouvi no Café com Letras.

Em Mãe, Doce Mar, o autor transporta-nos para o seu mundo, para o seu íntimo. E percebemos, de imediato, logo na primeira frase, que não ficaremos indiferentes à nova narrativa de JPC.
“Tinha doze anos quando conheci a minha mãe – esta frase dá para tudo, até para abrir um romance.
E, no meu caso, é verdade.”

E, assim, com um aperto no coração partimos à descoberta de Noah, de Frank e de Patience. A cada uma destas personagens, o autor dedicou capítulos próprios, que nos revelam, na primeira pessoa, flashes importantes das suas vidas e que, apenas, no final encaixam de forma surpreendente e fascinante.
O autor é exímio na construção do seu enredo, quando pensamos que nos vai revelar algo, ei-lo que trava e que cria uma pausa que nos deixa suspensos e nos força a ler e a ler numa busca incessante e que se vai tornar avassaladora. Eis um exemplo: “Não quero ir mais longe, revelar se o seu [da mãe] abraço teve o aperto perfeito ou até se aquelas lágrimas foram um caudal de culpa ou outra coisa qualquer.” (p. 9)

Sendo um romance autobiográfico nem sempre é fácil discernir onde entra a ficção. Também não faço questão de o saber. Não é importante. O que interessa mesmo é absorver a história que nos é narrada, desfrutar do poder e da força da escrita, sentir o prazer de uma boa leitura.

João Pinto Coelho neste romance enveredou por um novo caminho, saiu da sua zona de conforto conquistada merecidamente com três romances fabulosos, e não desiludiu. Pelo contrário, veio confirmar que é detentor de uma escrita bela, trabalhada como se de uma escultura se tratasse. Uma escrita sincera, extremamente humana que revela dramas, sofrimento, solidão,… neste caso, distancia-se do sofrimento colectivo para se centrar no “eu”. E que bem o fez. Como soube usar a metáfora do mar, ora calmo e contemplativo, ora tempestuoso para evidenciar os estados de alma das personagens.

Para concluir, resta-me sossegar JPC e dizer-lhe que pode continuar a confiar nos seus leitores, que, atentos, saberão ler nas entrelinhas, mesmo naquilo que não foi dito e que as luzes ficaram acesas. Brilhantes. Flamantes.

Graciosa Reis

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