5 de dezembro de 2022

Um Livro, Uma Comunidade - Tertúlia


No dia 23 de novembro, realizou-se a segunda  tertúlia do ano letivo e à semelhança de anos anteriores a conversa e a partilha de leituras incidiu no nosso patrono, mais concretamente, nas obra Trabalhos do Olhar. 
Estiveram presentes um aluno, uma encarregada de educação, dois funcionários, doze docentes, uma técnica especializada, uma psicóloga e uma ex-professora.
A conversa foi animada e motivadora porque vários leitores apresentaram fotografias de Sines relacionadas com os textos/versos da obra lida. Para alguns dos presentes foi a descoberta do poeta e para outros uma revisita à sua escrita. 
Os trabalhos fotográficos irão ficar expostos na BE até ao mês de Janeiro, data de aniversário de Al Berto.
Como já é habitual, finalizou-se a tertúlia com chá lúcia-lima e um delicioso bolo de laranja com cobertura de chocolate.

Para a tertúlia de Janeiro,  vamos ler autores de expressão inglesa. Se possível, escolher livros que abordem os Direitos Humanos ou o Holocausto. Será apresentada uma lista de sugestões de livros.






Opinião

Trabalhos do Olhar, de Al Berto

Revisitar a escrita de Al Berto é uma constante e uma necessidade quer por questões profissionais quer pessoais.

Trabalhos do Olhar estabelece uma relação entre a arte e a vida em que o “olhar” é o regulador da sociedade, da cultura, do poder, da ficção; um “olhar” límpido, atento, explicitamente homossexual que pretende subverter as normas instituídas; um “olhar” que transmite o desejo como matéria-prima da escrita, da sua escrita.
Al Berto usa uma linguagem homoerótica, apropria-se de topos da narrativa de sedução, de engate, de voyeurismo como, por exemplo, em “Truque do gato” (p. 29); o “olhar felino” que almeja o outro, o rapaz:
“(…)
espio o anoitecer, por trás das inexistentes cortinas
apercebo o rapaz com a silhueta do gato morto
junto ao peito, o meu olhar tornou-se felino
sorrio à minha ficção quotidiana
pego num lápis e recomeço a escrever”

É a escrita que alimenta Al Berto, que o mantém vivo, que o liga ao mundo por onde viaja “sem rumo”, que lhe acalenta o desejo, que lhe aviva as memórias que subtrai do “papel fotográfico” e que lhe permite todos os “Trabalhos do Olhar”, bem como revelar “escrevo-te a sentir tudo isto” e “não tenho medo de morrer aqui” . Estas revelações provocam no poeta a necessidade absoluta de escrever entre os silêncios onde se estabelece o caos do passar dos dias e onde se encontram as palavras, as imagens, as fotografias que acabam por restabelecer a ordem.

Al Berto escreve sobre sentimentos, sobre corpo(s), sobre memória, sobre solidão e morte, sobre o mar, a noite, a natureza e o cheiro das cidades costeiras, sobre feridas, sobre a escrita
“(…)
a escrita é um marulhar incessante
imito a paisagem como se te imitasse, ou escrevesse
teu corpo dilui-se nos ossos da página, contamina as cartilagens das sílabas
resta-me o fingimento sibilante das palavras
caminho pelo interior das dunas, apago o rasto de tinta acetinada, sou terra num texto onde não encontro água
só noite e um rumor imperceptível no coração
mais nada” (p. 19)

Recomendo! Muito!


Graciosa Reis

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