11 de outubro de 2021

Um Livro, Uma Comunidade - Autores brasileiros

No dia 6 de outubro, realizou-se mais uma tertúlia, a primeira neste ano letivo e a integrar o programa do Mês Internacional das Bibliotecas Escolares (MIBE
O tema desta sessão recaiu sobre livros de autores brasileiros. Foram realizados dois encontros devido à organização dos horários decorrente das normas de segurança ainda em vigor,  seguidas do já habitual e aconchegador lanche literário composto de chá e bolinhos. 
Estiveram presentes dezoito alunos, uma funcionária, e doze docentes e foram lidos catorze livros diferentes. 
As sessões foram animadas com as várias "leituras" e opiniões e para os novos "tertuliantes" a conversa tornou-se muito positiva na medida em que descobriram novos autores. 
Como em novembro, na Semana da Escola lemos sempre um livro do patrono, ficou decidido que seria A Vida Secreta das Imagens

Fica a retrospetiva. 



Livros lidos e apresentados




Opinião

𝑻𝒐𝒓𝒕𝒐 𝑨𝒓𝒂𝒅𝒐, de Itamar Vieira Junior

A trama deste belíssimo romance situa-se no sertão baiano. Nele se evocam a discriminação racial, as relações de servidão, a luta pela terra, mas também crenças, feitiços e rituais. Numa narrativa a várias vozes, acompanhamos as vidas de Belonísia e Bibiana, duas irmãs fortemente ligadas devido a um incidente que ocorreu na infância.

São histórias de sofrimento, de constante luta, de violência às quais o leitor não fica de modo algum indiferente, mas a dureza da vida nas roças, o trabalho de sol a sol sem salário, as condições de habitação, a falta de alimentos, as situações de violência, a luta pela sobrevivência são narradas de forma sensível e subtil, mitigando assim a dureza e a crueldade presentes ao longo do enredo.
“Fui tomada por uma profunda tristeza ao ver aquelas duas vidas, desamparadas diante do que lhes haviam feito. Vi tanta crueldade ao longo do tempo, e mesmo calejada me comovo ao ver os homens derramando sangue para destruir sonhos. Vi senhores enforcarem seus escravos como castigo. Cortarem suas mãos no garimpo por roubarem um diamante. Acudi uma mulher que incendiou seu próprio corpo por não querer ser mais cativa de seu senhor. ( ….) “ (p. 220)

Como sabemos, ao longo dos tempos, e sobretudo durante a escravatura, a mulher foi (e ainda é, infelizmente) o elemento fraco, violentado, abusado e maltratado. Contudo neste romance, apesar de focar essas facetas, o autor com muita sensibilidade atribui às mulheres um papel importante, de destaque. A figura feminina é forte e lutadora, conhecedora da terra e esperançosa numa vida melhor para os seus filhos, crente na sabedoria dos mais velhos e na religião do seu povo, o Jaré.

“(…) Seu nome era coragem. Era da linhagem de Donana, a mulher que pariu no canavial, que ergueu casa e roça com a força do seu corpo. A mulher que sentiu as dores do parto e deitou em silêncio, mordendo os lábios para parir mais um filho. (…) Era filha da gente forte que atravessou um oceano, que foi separada de sua terra, que deixou para trás sonhos e forjou no desterro uma vida nova e iluminada. Gente que atravessou tudo suportando a crueldade que lhes foi imposta.” (p.278)

Romance perturbador, impactante que com pinceladas de algum realismo mágico nos remete para as grandes obras de Jorge Amado e mesmo de Gabriel Garcia Márquez.

Graciosa Reis

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