"Para uma relação viva do leitor com a literatura universal é, importante que ele se conheça a si próprio e, consequentemente, que conheça as obras que agem sobre ele num modo particular, evitando seguir um qualquer esquema ou programa cultural. A via que ele tem de percorrer é aquela do amor, não aquela do dever. O facto de nos obrigarmos a ler uma obra-prima só porque é celebérrima e nos envergonhamos de ainda não a conhecermos seria um grave erro. Cada um de nós deve começar a ler, conhecer e amar aquilo que lhe suscita espontaneamente essa vontade.
Uma pessoa irá descobrir dentro de si o amor pelos belos versos desde os primeiros anos da escola, outra descobrirá o amor pela história ou pelas lendas da sua pátria, outra, talvez o gosto pelos cantos populares, e outra ainda achará atraente e deliciosa a leitura daquelas obras nas quais ela vê serem observados com exactidão e interpretados com uma inteligência superior os nossos sentimentos mais íntimos. As vias são inumeráveis.
É possível começar pelo livro de leitura escolar ou pelo almanaque, para acabar em Shakespeare, em Goethe ou em Dante.
Não devemos querer domar com a força ou a paciência uma obra sobre a qual ouçamos muitas loas, que tentamos ler, mas não nos agrada, que nos opõe resistência e nos proíbe o acesso; é melhor repô-la onde estava. Por isso, não é necessário convidar e exortar com demasiada insistência os jovens e os muito jovens a uma determinada leitura; deste modo, arriscamo-nos a fazer com que os mais belos livros do mundo, ou melhor, a verdadeira leitura em geral, lhes pareçam odiosos para toda a vida.
Cada um deve começar onde um poema, um canto, um conto, uma observação lhe tenham agradado e, partindo daí, ele deve ir à procura de coisas semelhantes."
Hermann Hesse, Uma Biblioteca da Literatura Universal.
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