24 de setembro de 2013

Um poema de Carlos Queiroz






Biblioteca
 (inédito)


Venho da vida, livros.
(Perdoai-me este humor!)
É como se trouxesse
Outra pele, outra cor. 



O que eu vi, não se conta.
Pode sujar o ar.
Basta o esforço que fiz
De ver e disfarçar!


Foi mais um dia, foi.
E amanhã voltarei.
E como na legenda:
Morto o rei, viva o rei.


Mas por hoje, ahl por hoje,
Lavai-me estas memórias,
Varrei-me estas imagens,
Livros, contai-me histórias!


Avalanches de páginas,
Catadupas de folhas
Desabem sobre mim!
— Oh! mas porque me olhas


Assim, fria brancura
Do papel em que escrevo?
O que tu me perguntas
A contar não me atrevo.


Desabem sobre ti,
Folha branca, as estantes!
Livros, livros e livros
Abertos, como dantes.


A insónia era longa,
A Poesia não vinha...
E eu lia, lia, lia
Até de manhãzinha.


Esta noite, a insónia
É do mesmo tamanho,
Mas é outra a razão;
Venho da vida. — Venho


Assim desfigurado.
(Outra pele, outra cor)
Venho da vida, livros.
— Perdoai-me este humor!



Carlos Queiroz

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