Poeta Al Berto

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23 a 27 novembro 2020

Para comemorar os 19 anos da atribuição do nome "Poeta Al Berto" à escola, a biblioteca propõe várias atividades no âmbito de "Olhares sobre Al Berto".





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15 julho 2020

AL BERTO: O POETA QUE ESCREVIA CONTRA O MEDO



Quis o acaso que o poeta Al Berto (1948 – 1997), pseudónimo literário de Alberto Raposo Pidwell Tavares, nascesse em Coimbra, onde o pai estudava medicina.

Aos quatro anos ficou órfão de pai, tendo este falecido num trágico acidente de automóvel.

O escritor passou a infância e adolescência na vila da costa alentejana de Sines, de onde eram oriundos os progenitores.
A mãe, ainda muito jovem, auxiliada pelos avós maternos, ficou a cuidar de Al Berto e de dois filhos mais novos, apesar dos avós paternos terem tentado tirar-lhe a custódia dos filhos. Acabaram por repartir todos a educação das crianças: os Raposo, pelo lado materno, de baixo estrato social, e os Pidwell Tavares, uma família aristocrática de Sines, uma miscigenação de latifundiários e empresários da indústria conservaria.

Da avó paterna, de origem inglesa, uma mulher de personalidade muito forte, ríspida e distante, mas muito rica: com casa senhorial, com biblioteca, quinta e jardim, criados e carro com motorista, jamais se esqueceria. Foi a primeira pessoa que lhe chamou maricas.

Al Berto começou a ler cedo e cedo a deixar-se viciar pelo prazer da leitura. Porém, brincou também muito, viu muito cinema, ouviu muita música, dançou muito, e passou por todos os exageros próprios dos adolescentes, com os irmãos e os amigos. Isto, sempre com o mar como pano de fundo. O mar do qual nunca conseguiu viver longe...

Fez o ensino primário numa escola oficial em Sines e aos doze anos foi para um colégio interno.

Em 1965, dando expressão a um gosto muito grande pelo desenho, pelas aguarelas e pelos guaches, que lhe vinha da infância, entrou na Escola Artística António Arroio, em Lisboa. No ano seguinte frequentou também o Curso de Formação Artística da Sociedade Nacional de Belas Artes, na mesma cidade.

Em 1967, com 19 anos, exilou-se em Bruxelas, primeiro na qualidade de estudante – frequentou o curso de pintura monumental na École Nationale Supérieure d`Architecture et des Arts Visuels – e, como refugiado político, para fugir à incorporação militar e à Guerra Colonial. Eram os anos da utopia do Maio de 68: uma época de grande agitação social, política e cultural.

Durante o exílio viajou com frenesi, efetuando uma série de viagens pela Europa: Espanha (sobretudo Málaga e Barcelona), Grécia, Países Baixos, Inglaterra, Itália... Nesse périplo europeu começou a escrever um diário. Hábito que nunca mais abandonaria...

Nesse tempo iniciou o seu afastamento da pintura e a sua aproximação à escrita. Decisão que acabaria por concretizar-se em 1971: «Como a pintura é muito demorada de executar, requer outros meios, mais caros, à escrita basta o papel e caneta, começou assim a minha mudança para a literatura", justificou. "E depois a isto tudo junta-se que de facto em 71 (...) havia um diário de viagens imenso. Não era só escrito era desenhado e era onde eu arrecadava praticamente tudo o que eu encontrava pelo caminho: desde fotografias a postais, a nomes de pensões, de ruas, mapas de cidades, etc. E comecei a me aperceber que nesse imenso diário, digamos assim, havia material que tinha uma qualidade e que não era propriamente um registo imediato, mas sim, apontava-me para outras preocupações.»

A passagem da pintura para a literatura implicou uma espécie de morte e renascimento, uma brecha que se abriu. Isso explica a adoção, a partir daí, do nome dividido em dois: Al Berto. Tal como explicou: «Senti necessidade de abrir a brecha com uma coisa que era muito minha e abri o nome ao meio, uma cisão num determinado percurso. Foi a maneira de não esquecer esse abismo. Depois, Al Berto, dito à francesa, Al Bertô, é mesmo árabe e é anónimo. E há qualquer coisa no anonimato que me seduz. E o nome funciona bem em termos de se reter.»

Mais tarde, esclareceria: «Tinha medo de estar sozinho e escrevia. (...) Escrevia por medo e contra o medo. (...) Tenho o caderno onde escrevo assente numa prancheta de madeira. Espera-me uma infindável noite, escrevo contra o medo.»
O poeta regressou definitivamente a Portugal, sete meses após a revolução democrática, no dia 17 de novembro de 1975, instalando-se em Sines. Na vila, que se transformara de terra de pescadores e marinheiros num enorme complexo industrial, abriu uma livraria/editora, a que deu o nome de "Tanto Mar". Aí, publicou livros seus e de outros autores, de certa forma marginais ao sistema editorial dominante, abordando sem pudor determinados tabus sociais e opostos às poéticas do rigor e da contenção.

O projeto da livraria durou apenas um ano. Em 1977 fechou-a e partiu para Lisboa.

Iniciariam nessa época as suas deslocações pendulares entre Lisboa e Sines, numa inquietação permanente, numa busca sôfrega pela paz que nunca encontraria. Quando Francisco José Viegas (em entrevista para a revista Ler nº 5, de 1989) lhe perguntou: «Quando está em Sines e quando está em Lisboa? Por que razão se divide entre Sines e Lisboa?", responderia: "A noite tem a ver com o Genet. A fuga, com Rimbaud. O lado místico com Bataille. Sade, com o imprevisto. O lado excessivo (as drogas, o álcool, embora esteja muito calmo desde há dez anos…), com Baudelaire. Um dia vou para um convento. Visto um hábito branco, muito branco, e entro para um convento. Vai ser o meu futuro: para um convento que tenha uma escola de canto gregoriano…»

A literatura de Al Berto esteve sempre associada à sua vida, à aventura. Escrever nunca se dissociou de viver. Nos poemas retratava-se de corpo inteiro. Confessava-se. E confessava-se de um modo às vezes incómodo, pela marginalidade assumida. A narrativa do poeta maldito, melancólico-depressivo, atraído pelo abismo, apaixonado pela noite, pelo lado lunar: procedendo a uma violenta exaltação do seu sofrimento, do seu desamparo. Tornando-os insuportavelmente presentes. Escarafunchando a ferida, permanentemente aberta. Combatendo o mal com mal. Sem esperança.

Em 1981, voltou de novo a Sines e alojou-se na Quinta de Santa Catarina, a quinta dos avós Pidwell Tavares.
Nesse ano, entrou para a Câmara Municipal de Sines como animador cultural. Mais tarde, entre 1992 e 1994, depois de ter coordenado o núcleo cultural da autarquia e de ter exercido diversas funções no Centro Cultural Emmerico Nunes (pintor modernista que curiosamente viria a casar com uma prima avó de Al Berto), que ajudou a criar, acabaria por assumir a presidência da direção do referido Centro.

Entretanto, a sua popularidade como poeta foi aumentando e a sua poesia alvo de um crescendo constante nos elogios e nos destaques publicitários.

Ao longo da sua vida, Al Berto colaborou em diversas revistas e jornais, participou em inúmeros debates, encontros de poesia e sessões de leitura, fez traduções e publicou alguns livros de prosa, teatro e, sobretudo, de poesia.

Em 1987, poeta já consagrado, foi galardoado com o prémio PEN-Club de Poesia, pelo livro O Medo que reúne todo o seu trabalho poético de 1974 a 1986 (sendo adicionados em posteriores edições novos escritos do autor), em 1992 recebeu de Mário Soares a medalha de Oficial da Ordem Militar de Sant`Iago da Espada, e em 1995 a Medalha de Mérito Municipal atribuída pelo executivo da Câmara Municipal de Sines.

Morreu em 1997, com 49 anos, em Lisboa, no dia 13 de junho, dia de Santo António, dia do nascimento de Fernando Pessoa, vítima de um linfoma que lhe tinha sido diagnosticado alguns meses antes.

Al Berto passou poeticamente pelo mundo. Rebelde, errante, ávido, excessivo, solitário, ensimesmado, cheio de desejos libertários, consumido pelos sentidos da existência.


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13 junho 2020


A Vida Breve programa de Luís Caetano - Ofício de Amar, Al Berto
 (RTP Play)  21 Jul. 2015 

https://www.rtp.pt/play/p1109/e202326/a-vida-breve


Ofício de Amar

já não necessito de ti
tenho a companhia nocturna dos animais e a peste
tenho o grão doente das cidades erguidas no princípio doutras galáxias, e o remorso

um dia pressenti a música estelar das pedras, abandonei-me ao silêncio
é lentíssimo este amor progredindo com o bater do coração
não, não preciso mais de mim
possuo a doença dos espaços incomensuráveis
e os secretos poços dos nómadas

ascendo ao conhecimento pleno do meu deserto
deixei de estar disponível, perdoa-me
se cultivo regularmente a saudade de meu próprio corpo

Al Berto

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6  maio 2020

Em resposta ao desafio da 4.ª semana: http://www.sines.pt/pages/396?news_id=2026  proposto pelo Centro de Artes de Sines.


(c) Graciosa Reis




Proposta da 4.ª semana do projeto Arte Contemporânea em CAS(A):
Uma obra de Jorge Molder. Um copo de vidro. Muita criatividade.
http://www.sines.pt/pages/396?news_id=2026&fbclid=IwAR26R5bbbxfVWjm9HLBZ_rl7gJaw1rjK1xg3dhkZVCubcQUFHhTDy0VF5Qg



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11 janeiro 2020

Hoje, é dia de aniversário



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11 dezembro 2019

Exposição 


Construção de uma baralho de cartas com palavras/grafismos pelos alunos de 7.º ano, sob a orientação da professora Maria Neves; leitura e ilustração da obra "Três cartas da Memória das Índias" pelos alunos do 10.º F, sob orientação das docentes Susana Machado e Maria Neves; 











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10 dezembro 2019



Nesta edição de Olhares sobre Al Berto, integrada na "Semana da Escola", realizaram-se várias atividades:

leitura conjunta de textos de Al Berto durante 10 minutos em todas as aulas; 

construção de uma baralho de cartas com palavras/grafismos pelos alunos de 7.º ano, sob a orientação da professora Maria Neves; leitura e ilustração da obra "três cartas da Memória das Índias" pelos alunos do 10.º F, sob orientação das docentes Susana Machado e Maria Neves; 
exposição dos trabalhos; 
tertúlia literária.



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28 novembro 2019


Texto de Opinião 

Três Cartas da Memória das Índias, Al Berto, Contexto

Reler. Ler de novo. Sempre. O Medo de Al Berto faz parte daqueles livros que me acompanham sempre. De tempos a tempos, volto a ele quer por questões de trabalho (planificação de atividades) quer por gosto pessoal. A escolha, desta vez, recaiu sobre as Três Cartas da Memória das Índias.
Estes três textos remetem o leitor para a época das navegações portuguesas, (“As Índias por descobrir”) terra longínqua, possível destino de Al Berto que não sabe muito bem qual será o seu destino. Para ele, o importante é mesmo partir, fugir, procurar um lugar onde as fronteiras se esbatam…
“ não sei o que me espera longe daqui
nem onde pararei de viajar
sei que devo partir de todos os lugares onde chegar
se é que alguma vez vou chegar a algum lugar”
Os destinatários destas três cartas imaginárias (ou não?) são, respectivamente, a mulher, o pai e um amigo. À primeira, o poeta atribuiu o nome “Carta da árvore triste”; à segunda, “Carta da região mais fértil” e à terceira, “Carta da flor do sol”. Em intertextualidade com um livro de Pyrard de Laval “Tradução e descrição dos animais, árvores e frutos das Índias Orientais”, o poeta explica-nos, assim, a razão pela atribuição destes nomes às cartas.
Na carta à mulher, o sujeito poético refere o seu cansaço em relação à vida comum, ao quotidiano, à rotina “o dia instalar-se-á igual aos outros milhares de dias” e refere também a existência de um amigo cuja amizade não consegue explicar.
Na carta ao pai, o sujeito poético aborda o longo tempo de silêncio existente entre ambos (“há muito que o silêncio se fez entre nós”) e apresenta as razões da sua partida: a monotonia do amor conjugal, a insistência da mulher na realização das tarefas caseiras,
“não sei se o pai poderá compreender esta velocidade
aqui tudo se tornou dia após dia mais doloroso
minha mulher anda atarefadíssima com o arranjo da casa
parece que mais nada existe para ela”
e o encontro de “outras compensações/ a amizade segura de uma amigo”
Finalmente, a carta a um amigo, verdadeira razão do abandono, da partida “queria dizer-te por que parto/ por que amo”. O desejo, a procura insaciável do “tu”, o medo da ausência, da solidão justificam a partida, o isolamento

“estou definitivamente só
estou preparado para o grande isolamento da noite
para o eterno anonimato da morte
mas perdi o medo
a loucura assola-me
preparo a última viagem às Índias imaginadas”


(Re)Leiam Al Berto. Eu, adoro a sua escrita… e vou (re)lê-lo sempre.

Graciosa Reis 



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27 novembro 2019


Neste dia, realizou-se mais uma tertúlia, tendo como tema de conversa as Três Cartas da Memória das Índias, do nosso patrono. 

A conversa foi animada com as várias "leituras" e opiniões dos presentes. 

No final da tertúlia, cada participante referiu a sua carta preferida de entre as três em discussão e concluiu-se que a Carta ao amigo teve mais adeptos. 




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25 a 29 novembro 2019

Para comemorar os 18 anos da atribuição do nome "Poeta Al Berto" à escola, a biblioteca propõe várias atividades no âmbito de "Olhares sobre Al Berto".






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21  Março  2019


e ao anoitecer adquires nome de ilha ou de vulcão
deixas viver sobre a pele uma criança de lume
e na fria lava da noite ensinas ao corpo
a paciência o amor o abandono das palavras
o silêncio
e a difícil arte da melancolia


Al Berto







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14  Fevereiro  2019


Gravuras de 26 artistas criam leitura visual da poesia de 
Al Berto

A pretexto da tradução italiana de Horto de Incêndio é esta quinta-feira, dia 14 de fevereiro,  inaugurada em Roma uma surpreendente exposição de 26 artistas portugueses que usaram as técnicas da gravura para imaginar o mundo a que Al Berto deu voz.



Notícia completa in Ípsilon, Público por Luís Miguel Queirós   (aqui)
14 de Fevereiro de 2019, 7:20



Desenho a grafite de Luís Manuel Gaspar - MART
Al Berto — «a voz atada por uma corda de lírios»', 2019.



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29 Janeiro 2019


Entrevista a Armando Bila, pintor

Armando Bila nasceu no dia 8 de Junho de 1947.
Este homem pinta no seu dia-a-dia e veio contar-nos algumas coisas:

Ana, Gonçalo, Gustavo (entrevistadores): Como e quando começou a pintar?

Sr.Armando(entrevistado): Comecei a pintar na escola primária com lápis de carvão, lápis de cor... Depois continuei a pintar sempre durante a minha vida, umas vezes mais e umas vezes menos. Até quando fui para a tropa pintei lá uma coisa ou outra... lá em África.
E continuo a pintar,nuns anos pinto mais, noutros menos.

Entrevistadores: Gosta mais de pintar coisas reais ou imaginárias?

Entrevistado: Eu pinto tudo. Gosto de pintar coisas reais e imaginárias. Gosto do surreal/abstrato, que começo a fazer e sai qualquer coisa, como gosto do realista, que é aquilo e acabou. A única coisa que tenho"preferência" é que pinto mais a tinta acrílica do que a óleo.

Entrevistadores: Como lida com as críticas ao seu trabalho? Certamente já recebeu críticas ou não?

 Entrevistado: As pessoas dizem-me sempre que está bom, toda a gente diz que está muito bonito, nunca ninguém pôs defeitos (risos), também ninguém ia dizer que não presta, eu é que às vezes não gosto. Sou o meu maior crítico.

Entrevistadores: Qual/Onde foi a sua primeira exposição ao público?

Entrevistado: Foi no centro cultural Emmerico Nunes por volta de 1990.
Nunca quis expôr o meu "trabalho", sempre pensei que não iam gostar mas foi um grande sucesso, nunca aquela sala encheu tanto. Nessa altura o Al-Berto era o diretor do centro e foi ele quem me convidou e convenceu a fazer a exposição.

Entrevistadores: Como/Quando é que conheceu o Al Berto?

Entrevistado: Conheci o Al Berto antes de ir para a escola primária. Ele tinha uma tia e eu tinha outra tia (pois!!). Elas eram muito amigas e eu já ia para a casa do Al Berto. Ele era muito tímido, ele não saía de casa antes de entrar na escola. Puseram-no ao meu lado para ele se ambientar e habituar. Tivemos juntos até à terceira classe, depois fiquei doente e perdi o ano e o Al Berto continuou. Apesar disso continuámos sempre a dar-nos bem, até ele ir para a Bélgica e eu fui para a tropa (ele "fugiu" à tropa, não queria ir) e aí deixámos de nos ver.

Entrevistadores: Considerava Al Berto melhor escritor ou melhor pintor? E porquê?

Entrevistado: Na escrita eu não considerava o Al Berto nem bom nem mau, pois não sou entendedor no assunto, e só percebia a escrita dele porque o conhecia, ele tinha uma escrita um bocado complicada, então era bom, porque... pronto! Era meu amigo. Ele pintava era bem, porque andou à escola, ele não era nada de escritor, pintar é que era, depois começou na fotografia e depois é que começou a escrever. Ele experimentou várias coisas, era rico, tinha dinheiro à farta para isso.

Entrevistadores: Muito obrigado senhor Armando por nos ter contado o que de certa forma fez e faz parte da sua vida.

 Entrevistado: Obrigado eu por me terem convidado e ouvido.




Trabalho realizado por: Gonçalo Torpes, Matilde Bila e Gustavo Baião (8.º D), no âmbito das apresentações orais da disciplina de Português




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11 janeiro 2019


Hoje é dia de Aniversário


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05 dezembro 2018



Nesta edição de Olhares sobre Al Berto, integrada na "Semana da Escola" deu-se continuidade ao estendal poético mas, este ano, realizado pelos utentes dos espaços seniores, em articulação com o Centro de Artes de Sines, que no dia 23 vieram à escola para nos mostrar as peças criadas e ouvirem textos de Al Berto lidos por alunos em francês e português.



Sob a orientação da professora de educação visual e oficina de artes os alunos de 8.º ano foram desafiados a realizarem o redesign da capa do livro Mar de Leva. Mais uma vez demonstraram muita criatividade.



Realizou-se ainda uma tertúlia sobre Mar de Leva. Leram-se textos e falou-se de Sines e do poeta. Alguns dos presentes partilharam as suas mémorias sobre a transformação da vila naquela época (1976).



Fica a retrospetiva...





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21 novembro 2018


No final da tertúlia, os participantes selecionaram, de entre os sete  textos que compõem Mar de Leva, aquele que consideraram mais marcante porque é bem  revelador do sentimento de Al Berto em relação à transformação de Sines.

1

chegaram as máquinas para talhar a cidade que vem
das águas cresce a obra do homem, ouve-se um lento grito d'espuma  e suor...
... na memória ficaram os sinais dos bosques ceifados, as dunas desfeitas e algumas 
    casas abandonadas
estenderam-se tubos prateados, onde escorre o negro líquido
levantaram-se imensas chaminés, serpenteiam auto-estradas na paisagem irreconhecível do teu rosto

onde estarão as tâmaras maduras de tuas palmeiras?
e o perfume intenso das flores debruçando-se ao sol ?
que murmúrio terão as pedras do teu silêncio?

a memória é hoje uma ferida onde lateja a Pedra do Homem, hirta como uma sombra num sonho
e as aves? frágeis quando aperta a tempestade...migraram como eu?
aonde caminhas, doce Moura Encantada?

oiço o ciciar dos canaviais do sono, adivinho teu caminhar de beijos no rumor das águas
tuas mãos de neve recolhem conchas, estrelas secretas, luas incendiadas...que o mar esconde na respiração das marés

estremecem-se nas mãos os insectos cortantes do medo, em meu peito doído ergue-se esta raiva dos mares-de-leva...





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21 a 28 novembro 2018

Para comemorar os 17 anos da atribuição do nome "Poeta Al Berto" à escola, a biblioteca propõe várias atividades no âmbito de "Olhares sobre Al Berto". 






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25 janeiro 2018

O Estendal Poético sobre Al Berto, criado pelos alunos, professores e funcionários da escola está gora patente no Centro de Artes de Sines. O Estendal, no CAS, pretende assinalar a data de nascimento do poeta, que comemoraria os seus 70 anos, no dia 11 de janeiro.



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11 janeiro 2018


Os Amigos

no regresso encontrei aqueles
que haviam estendido o sedento corpo
sobre infindáveis areias

tinham os gestos lentos das feras amansadas
e o mar iluminava-lhes as máscaras
esculpidas pelo dedo errante da noite

prendiam sóis nos cabelos entrançados
lentamente
moldavam o rosto lívido como um osso
mas estavam vivos quando lhes toquei
depois
a solidão transformou-os de novo em dor
e nenhum quis pernoitar na respiração
do lume

ofereci-lhes mel e ensinei-os a escutar
a flor que murcha no estremecer da luz
levei-os comigo
até onde o perfume insensato de um poema
os transmudou em remota e resignada ausência

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11 janeiro 2018






Frase vencedora:

“ Seremos sombras, de medo não alcançados, guardados silenciosamente num diário. Seremos pó de calendários lunares, aqueles condenados, ao esquecimento eterno. Seremos sombras, seremos pó, de quem um dia desejamos sermos.”


Beatriz Pedro, 10.ºB



Outras Frases:

“ O medo da mudança não devia existir e sim apenas ser entregue ao anjo mudo que cuida do nosso destino.”


Mónica Almeida, 9.ºA

“ O medo de ficar sem internet.”


João Moreira, 9.ºA




“ Por maior que seja a vontade de retrucar e provocar às vezes o melhor é ser um Anjo mudo.”


Mónica Almeida, 9.ºA
“ Não é pelas aparências que se vê um anjo, mas sim falando.”

Diogo Barradas, 9.ºB


“O medo é algo que não se quer, mas que todo o ser humano vem a ter.”

Filipe Cruz, 9.ºB



“ O medo é a razão de algumas tristezas que acontecem na vida das pessoas.”


Madalena Bernardo, 1.º TAP
“ A maior virtude do Anjo mudo é o medo, ainda que este aparente ser um defeito.”

António Afonso, 10.ºA


“O medo, uma palavra tão pequena que significa tanto. Medo é algo que não desejamos mas que não conseguimos controlar. Sim é desagradável. Mas é também o que nos faz crescer quando o enfrentamos, é como se fossemos capazes de fazer de tudo. E assim, tornamo-nos mais fortes, mais adultos.”


Daniela Silva,12.ºA


Prémios: 






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20 novembro a  14 novembro 2017 


Nesta edição de Olhares sobre Al Berto pretendia-se divulgar a obra do autor. Pensou-se em criar um estendal poético com t'shirts ilustradas por alunos, professores e funcionários com desenhos, fotos e frases do patrono da escola. 

Sob a orientação da professora bibliotecária, de algumas professoras de português e de francês, os alunos revelaram muita criatividade quer na técnica quer nos materiais usados. Mais uma vez fomos surpreendidos com tanta ideia magnífica e, por que não, poética.



Havia t'shirts en vários estendais nos diferentes átrios da escola e na biblioteca. "A escola está linda" - disse a professora Lúcia Ramiro. Eu reitero esta opinião e agradeço muito a todos os que se deixaram contagiar por esta ideia. Um agradecimento especial à turma do 3.º TC, que nas aulas de francês, foram os grandes impulsionadores desta ideia e ao Fábio porque sem ele não teríamos estendais. 


Fica a retrospetiva...




Olhares sobre Al Berto 2017




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22 novembro 2017 

A partir desta semana, a papelaria da nossa escola vai ter à venda uma seleção de artigos com referência ao patrono. Esta iniciativa foi concretizada nas aulas de francês (módulo 9 - à volta de um projeto) do curso profissional Técnico de Comércio. 
Parabéns aos alunos e à professora que tão bem levaram a cabo mais uma atividade para promover a escola e o patrono. 






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22 novembro 2017 


No dia 22 de novembro, realizou-se mais uma tertúlia à volta do livro O Anjo Mudo, de Al Berto. Desta forma assinalou-se também o dia do patrono, integrado nas atividades da Semana da Escola
Foi uma conversa animada com várias "leituras" sobra este livro, em concreto, e sobre a escrita do poeta. Foram ainda apresentadas novas sugestões de leituras.



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22 novembro 2017 



Por intermédio da Dr.ª Elsa Conde foi este quadro oferecido à biblioteca escolar. 







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20 a 28 novembro 2017 









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19 setembro 2017 

Grandes Cartas de Amor

Al Berto - Carta da flor do sol | 19 Set, 2017 | Por Inês Pedrosa

https://www.rtp.pt/play/p3075/e306575/grandes-cartas-de-amor



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09 setembro 2017 




Hoje, às 21h30, no castelo de Sines,  temos a  antestreia o filme do realizador Vicente Alves do Ó sobre Al Berto. 


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13 junho 2017 (20 anos de saudade)


AUTOBIOGRAFIA RESUMIDA:

1 NÃO TENHO AUTOMÓVEL
2 NÃO TENHO TELEVISÃO
3 NÃO TENHO COMPUTADOR
4 NÃO TENHO TELEMÓVEL NEM CARTÕES DE CRÉDITO
5 CADA VEZ ESCREVO MENOS À MÁQUINA E ODEIO MÚSICA "PIMBA"
6 Gostaria de viver num hotel

in Diários, 17 maio  Lx  (1996)




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11 maio 2017


No âmbito das comemorações dos 20 anos da morte de Al Berto, a biblioteca municipal convidou a comunidade a participar numa leitura de excertos da obra do poeta - Al Berto de Voz em Voz.
Os alunos das turmas B e C, do 9.º ano, acompanhados pela professora Noélia Carrasquinho, participaram  nesta iniciativa.






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22 abril 2017






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21 março 2017



será feita de aves a primeira sensação da manhã
ser-nos-ão concedidos o dom do voo e do sonho permanente
juntos descobriremos a fonte do nocturno bosque
e a sabedoria do estritamente necessário
despojar-nos-emos dos corpos
dos objectos acumulados na memória

do sonho e do ouro utópico chegará a metamorfose
o tempo será rigorosamente prolongado a cada enxertia dos pomares
da mesma árvore derramar-se-ão frutos diferentes
quando os dias se tornarem mais nítidos


o regresso é demorado
avança manhã adiante
com o crescimento das mãos e da sageza

Al Berto, O Medo

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7 fevereiro 2017

Mais uma iniciativa do CAS para assinalar os 20 anos da morte de Al Berto.




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18 janeiro 2017


Este ano completam-se 20 anos da morte do nosso patrono. Esta é a primeira, de várias realizações artísticas, que o Município de Sines irá desenvolver ao longo do ano para evocar a memória de Al Berto. 





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11 janeiro 2017

Hoje, o Al Berto faria 69 anos... 







"Al Bertos", criados pela Pastelaria Vela de Ouro (Galegos) em homenagem ao poeta. 




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07 dezembro 2016

Este ano, a atividade "Olhares sobre Al Berto" teve como convidado o realizador Vicente Alves do Ó. O seu olhar incidiu sobretudo na realização do filme que o mesmo está a produzir neste momento, sobre o patrono da escola.

Foi uma abordagem diferente e muito interessante. Todos aprendemos muito sobre o mundo das filmagens, desde a escrita do guião até à produção final e sobretudo sobre o Al Berto.





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20 novembro 2016






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07 outubro 2016



SINES: VICENTE ALVES DO Ó INICIA HOJE RODAGEM DE FILME SOBRE AL BERTO

6 OUTUBRO, 2016 HELGA NOBRE





O realizador Vicente Alves do Ó inicia hoje a rodagem de ‘Al Berto’, “um filme geracional, do pós 25 de abril, feito através da história de vida do poeta Al Berto”, contou à agência Lusa.

Com produção da Ukbar Filmes, a rodagem decorrerá em Sines e em Lisboa até meados de novembro e é uma ficção, um filme de época, inspirada num período da vida do poeta Al Berto, na década de 1970, mas é também “um passeio por uma geração dos vinte anos que na altura recebeu de bandeja a liberdade”.

“Foi uma figura ímpar, não só de Sines, abanou as convenções e a sociedade de então. Traz uma ideia de futuro, de liberdade e a sociedade não estava preparada para a diferença”, contou Vicente Alves do Ó, que conheceu e trabalhou com Al Berto no início dos anos 1990.

O elenco do filme conta com “uma nova geração de atores, que não é conhecida do cinema, nem da televisão” e com atores já com longo trabalho na representação, e dele fazem parte nomes como Ricardo Teixeira, que interpretará o papel de Al Berto, Joana Almeida, Manuela Couto, Miguel Seabra, Rita Loureiro e Elsa Valentim.

‘Al Berto’ tem apoio financeiro do Instituto do Cinema e Audiovisual e da autarquia de Sines e deverá estrear-se nos cinemas em 2017.

O poeta e editor Al Berto (pseudónimo de Alberto Tavares) nasceu em Coimbra, mas cresceu em Sines, onde escreveu ‘À procura do vento num jardim d’agosto’ e dirigiu o Centro Cultural Emmerico Nunes. Morreu em 1997 aos 49 anos, dez anos depois de ter recebido o Prémio Pen Clube pela antologia poética ‘O Medo’.

Vicente Alves do Ó filma ‘Al Berto’ meses depois de ter estreado nos cinemas a comédia ‘O amor é lindo… porque sim!’.

O realizador é ainda autor de ‘Florbela’ (2012) e ‘Quinze pontos na alma’ (2011) e várias curtas-metragens.

‘Al Berto’ e ‘Florbela’ são dois filmes de uma trilogia que Vicente Alves do Ó quer dedicar a poetas portugueses que o influenciaram na adolescência. Está ainda em aberto a escolha do terceiro, embora à Lusa tenha referido os nomes de Herberto Helder, Luís Vaz de Camões e Sophia de Mello Breyner Andersen.

“São escolhas puramente emocionais”, disse.

A par do cinema, Vicente Alves do Ó encenou, em junho em Lisboa, a peça ‘Variações de António’, um monólogo para o ator Sérgio Praia, inspirado na biografia do músico António Variações.


Fonte:Lusa
in, antenamirobriga.pt/


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13 junho 2016



enleia nas unhas o triste sono das violetas
e nas hastes das cassiopeias demora-te
para surpreenderes o estelar canto do rouxinol

rasga janelas no lume íntimo da lareira
pede à noite que sob as pálpebras se transforme
numa imensa borboleta em chama

a casa onde vives alimenta-se com o sorriso
da criança que estende as mãos para ti
enquanto o turvo líquido da velhice escurece
a memória desse tempo sem palavras


in O Medo, Lisboa, Assírio Alvim, 1998

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04 maio  2016


Os poetas - "Há-de flutuar uma cidade"* (Al Berto) disco "entre nós e as palavras" (1997)

Publicado a 23/11/2012
Titulo completo "Há-de flutuar uma cidade no crepúsculo da vida"
Musica de Francisco Ribeiro
Poema de Al Berto (dito pelo próprio)



Há-de flutuar uma cidade no crepúsculo da vida
Pensava eu... como seriam felizes as mulheres
À beira mar debruçadas para a luz caiada
Remendando o pano das velas espiando o mar
E a longitude do amor embarcado

Por vezes
Uma gaivota pousava nas águas
Outras era o sol que cegava
E um dardo de sangue alastrava pelo linho da noite
Os dias lentíssimos... sem ninguém

E nunca me disseram o nome daquele oceano
Esperei sentada à porta... dantes escrevia cartas
Punha-me a olhar a risca de mar ao fundo da rua
Assim envelheci... acreditando que algum homem ao passar
Se espantasse com a minha solidão

(anos mais tarde, recordo agora, cresceu-me uma pérola no
Coração. mas estou só, muito só, não tenho a quem a deixar.)

Um dia houve
Que nunca mais avistei cidades crepusculares
E os barcos deixaram de fazer escala à minha porta
Inclino-me de novo para o pano deste século
Recomeço a bordar ou a dormir
Tanto faz
Sempre tive dúvidas que alguma vez me visite a felicidade



iO Medo, Lisboa, Assírio Alvim, 1998

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20 abril  2016

Corpo

que te seja leve o peso das estrelas
e de tua boca irrompa a inocência nua
dum lírio cujo caule se estende e
ramifica para lá dos alicerces da casa

abre a janela debruça-te
deixa que o mar inunde os órgãos do corpo
espalha lume na ponta dos dedos e toca
ao de leve aquilo que deve ser preservado

mas olho para as mãos e leio
o que o vento norte escreveu sobre as dunas

levanto-me do fundo de ti humilde lama
e num soluço da respiração sei que estou vivo
sou o centro sísmico do mundo



in O Medo, Lisboa, Assírio Alvim, 1998

21 março  2016


Dia Mundial da Poesia


                                   in "30 aniversário do CCEN -Três Décadas: Diálogos Intemporais."



V

Ele murmura:
deixemos o sonho para quando os corpos se perderem
no excesso das imagens ou na sua irritação
eles simulam o amor

um olhar rápido pelo lugar abandonado
pressente-se ainda a fuga dos corpos
na aragem que limpa a casa
a memória poderá reconstruir tudo a partir das imagens
e do intenso cheiro a mato
por agora nada mais é visível
...azul e mais azul e nenhuma mudança na paisagem
nenhum vestígio

as luzes apagaram-se o material foi guardado
o lugar adormece por baixo do bolor imutável
e no esquecimento
os actores caminham para o fim do filme

um gravador esquecido
regista os passos que se afastam devagar
não sabemos ao certo para onde





in Trabalhos do Olhar, Filmagens 1980/81, Al Berto



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02 março  2016

Este vídeo "Olhares sobre Al Berto" foi construído no âmbito da iniciativa "Boas práticas" da Rede de Bibliotecas Escolares (RBE).Trata-se de uma síntese de todas as atividades desenvolvidas, na escola, desde a atribuição do nome Poeta Al Berto à escola.




Boa prática Olhares sobre Al Berto from BE ESPAB on Vimeo.


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11 janeiro  2016

Al Berto 68 anos

















Pernoitas em Mim

pernoitas em mim 

e se por acaso te toco a memória...amas
ou finges morrer

pressinto o aroma luminoso dos fogos
escuto o rumor da terra molhada
a fala queimada das estrelas

é noite ainda
o corpo ausente instala-se vagarosamente
envelheço com a nómada solidão das aves

já não possuo a brancura oculta das palavras
e nenhum lume irrompe para beberes

 in Rumor dos Fogos'


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04 dezembro  2015

Olhares sobre Al Berto


Após a sessão de leitura e representação gráfica, todas as ilustrações realizadas pelos alunos (uma para cada texto lido) foram expostas na escola.




Insérer Blog - collage


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03 dezembro  2015


Olhares sobre Al Berto


Este ano foi diferente, mas foi lindo!!! 

A Cristina Fernandes leu.... os alunos desenharam... e eu... registei e apreciei o momento. 

A primeira leitura...




Olhares sobre Al Berto - Montage Vidéo Kizoa


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17 novembro  2015

4.ª Edição de Olhares sobre Al Berto





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03 novembro  2015


9. JORNAL DE VIAGEM

             O dia de ontem foi vivido, e pensado, intensamente; quase como um poema.
          Cansados, chegámos a Sines – como se tivéssemos chegado a um sítio perdido na paisagem da imensa noite – pelas intermináveis e monótonas auto-estradas que terminam, subitamente, no mar.
            É-me sempre difícil chegar a Sines. Aqui passei a infância; e, aqui, muitas vezes, voltei à procura daquilo que sabia ter perdido para sempre.
            Quantas vezes me traiu, e amou, esta vila? Quantas vezes, com amargura, fugi dela?
         «O que destrói a terra, destrói o corpo», disse alguém. A devastada paisagem fazia parte de um corpo cuja memória me é impossível apagar – corpo onde permanece ainda aceso o mistério da criança que fui.
            Levantei-me cedo. A Helena e o Joaquim dormem. Sentado junto à lareira transcrevo o início do livro Elle (1899), de Claúdia de Campos: «O relógio da pequena villa de Sutil [Sines], situada em amphitheatro sobre as rochas, à beira do Oceano, fez ouvir no povoado silêncio de uma clara e serena manhã de maio às seis horas. O sol ia dissipando a transparente neblina e despindo a agreste paisagem dos veus da gaze que a envolviam. Cortavam o ar milhares de asas; pela terra os insectos zumbiam. As casas, pouco elevadas, brancas, amarelas, côr de rosa e azues, destacavam-se a pouco e pouco, d’entre as brumas, e recortavam-se umas no horizonte, outras no fundo escuro do pinhal.»
            Restará alguma coisa deste «postal ilustrado»?
       Lembrei-me, neste instante, de Brígida. Olho fixamente o fogo enquanto o passado também arde em mim – como um clarão de luz sobre o mar. Sinto que há uma estranha eternidade naquilo que amámos e foi destruído.

         Ao longe, as gaivotas em voo planado sulcam a salinidade aérea do mar. Encosto a cara ao vidro turvo da janela e deixo passar o tempo.



in O Anjo Mudo




14. PRAIAS


A luz afoga-se no silêncio destes lugares desertos. Um mergulhão em voo picado entra numa onda.
            Pedra Casca: caminha pelas areias e pensa na cidade que se liquefaz na memória. Passo a passo, estremece com aquilo que desejas. E não desejas mais do que entrar neste mar, como o mergulhão.
            Burrinho: uma noite são mil anos. Mil anos são um dia. Respira fundo e pensa: «Sou um aventureiro, quero conhecer todos os países e todos os povos do Mundo».
            Morgavel: dizem que os pássaros e as borboletas são a alma dos mortos. Talvez tenhas chegado à casa que flutua no meio da barragem. Descansa, agora, no agasalho dos teus antepassados.
            Oliveirinha: estende o corpo, adormece debaixo da sombra do meu. Sorris, quando te segredo, que a sombra te seja leve.
            Samoqueira: caminhamos pelos continentes em direcção à casa imaginada. Espoliados de projectos e de esperança.

            À porta da alba encontramos os mortos, com os cabelos emaranhados em tumultuosas estrelas. Brilham, como pirilampos, ao fundo do túnel da noite. É para esse litoral que nos dirigimos.

in O Anjo Mudo





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setembro  2015

O patrono na sala "Degredo no sul" (sala polivalente). 








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27 abril 2015

Na casa preta do Centro de Artes de Sines, nos dias 24 e 25 do corrente mês, surgiu pela mão do artista SKRAN, este belíssimo retrato de Al Berto. 





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08 abril 2015

Sines: Município de Sines apoia filme de Vicente de Alves do Ó sobre Al Berto






O município de Sines e a produtora Ukbar Filmes assinaram, no dia 7 de abril, nos Paços do Concelho, um protocolo de colaboração relativo ao filme do realizador Vicente Alves do Ó sobre o poeta Al Berto.

Através do protocolo, o município compromete-se a participar no financiamento dos custos de desenvolvimento da obra, no montante de 10 mil euros, entre outros apoios.

O inequívoco interesse do filme para a projeção da imagem de Sines e da obra de dois criadores de Sines justifica a colaboração do município com o projeto. Al Berto é considerado um dos mais importantes poetas da sua geração e um dos mais originais, possuidor de um universo de características muito próprias na poesia portuguesa.Vicente Alves do Ó divide o seu trabalho entre o cinema, o teatro e a literatura, destacando-se na sua carreira as duas longas-metragens produzidas, “Quinze Pontos na Alma” e “Florbela”.O filme sobre Al Berto fará o retrato de um período mítico da história de Sines, entre 1975 e 1977, quando o poeta escreveu o seu primeiro livro em português e trouxe para a então vila, em plena convulsão industrial, uma extravagante forma de estar e viver.Vicente Alves do Ó esteve presente na assinatura do protocolo e explicou que, depois da investigação e da primeira versão do guião, o projeto se encontra neste momento “na sua segunda fase de escrita”.O realizador disse que gostaria de envolver a população na recriação da vila dos anos 70 e confessou o desejo de fazer a antestreia do filme no Castelo de Sines.O presidente da Câmara Municipal de Sines, Nuno Mascarenhas, disse que a autarquia “tinha de se associar a esta iniciativa”, pela importância da figura de Al Berto.O facto de o autor do filme ser um siniense, “que teria obviamente de ser apoiado pela sua Câmara Municipal”, reforçaram o empenho da autarquia em ajudar a viabilizar o projeto.


Por 
http://www.radiosines.com/sines-municipio-de-sines-apoia-filme-de-vicente-de-alves-do-o-sobre-al-berto/

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21 março 2015


2. 


a escrita é a minha primeira morada de silêncio

a segunda irrompe do corpo movendo-se por trás das palavras...
... extensas praias vazias onde o mar nunca chegou
deserto onde os dedos murmuram o último crime
escrever-te continuamente... areia e mais areia
construindo no sangue altíssimas paredes de nada...

esta paixão pelos objectos que guardastes
esta pele-memória exalando não sei que desastre...
... a língua de limos

espalhávamos sementes de cicuta pelo nevoeiro dos sonhos
as manhãs chegavam como um gemido estelar
e eu persegui teu rasto de esperma à beira-mar...

... outros corpos de salsugem atravessam o silêncio
desta morada erguida na precária saliva do crepúsculo...


in Salsugem
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11 janeiro 2015




1.

penso na morte
mas sei que continuarei vivo no epicentro das flores
no abdómen ensanguentado doutros-corpos-meus
na concha húmida de tua boca em cima de números mágicos
anunciando o ciclo das águas e o estado do tempo...

... a memória dos dias resiste no olhar de um retrato
continuo só
e sinto o peso do sorriso que não me cabe no rosto
improviso um voo de alma sem rumo mas nada me consola...

é imprevista a meteorologia das paixões...
... pássaros minerais afastam-se suspensos
vislumbro um corpo de chuva cintilando na areia...

até que tudo ser perde na sombra da noite… além
junto à salgada pele de longínquos ventos

in salsugem


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25 novembro 2014

3.ª Edição de Olhares sobre Al Berto




Nesta edição de Olhares sobre Al Berto pretendia-se abordar a faceta artística do autor. Com base na obra Projectos 69, os alunos do 7.º A e os alunos do ensino especial, sob a orientação da professora de ET/EV, fizeram colagens e deram cor a alguns desenhos propostos no livro. Os trabalhos foram expostos no átrio da escola. 



Ainda no âmbito desta edição, realizou-se, no dia 21 de novembro, na sala polivalente, a sessão "À conversa com Isabel e Luís Silva" dirigida aos alunos do 10.º ano. Os convidados, amigos de Al Berto, contaram alguns episódios que viveram em conjunto e explicaram a seleção de fotos, desenhos e pinturas que apresentaram em powerpoint.














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20 novembro 2014


Atividade "Olhares sobre Al Berto" 






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13 junho 2014




Se um Dia a Juventude Voltasse



se um dia a juventude voltasse
na pele das serpentes atravessaria toda a memória
com a língua em teus cabelos dormiria no sossego
da noite transformada em pássaro de lume cortante
como a navalha de vidro que nos sinaliza a vida



sulcaria com as unhas o medo de te perder... eu
veleiro sem madrugadas nem promessas nem riqueza
apenas um vazio sem dimensão nas algibeiras
porque só aquele que nada possui e tudo partilhou
pode devassar a noite doutros corpos inocentes
sem se ferir no esplendor breve do amor 



depois... mudaria de nome de casa de cidade de rio
de noite visitaria amigos que pouco dormem e têm gatos
mas aconteça o que tem de acontecer
não estou triste não tenho projectos nem ambições
guardo a fera que segrega a insónia e solta os ventos
espalho a saliva das visões pela demorada noite
onde deambula a melancolia lunar do corpo 


mas se a juventude viesse novamente do fundo de mim
com suas raízes de escamas em forma de coração
e me chegasse à boca a sombra do rosto esquecido
pegaria sem hesitações no leme do frágil barco... eu
humilde e cansado piloto
que só de te sonhar me morro de aflição

in Rumor dos Fogos


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21 março  2014



Dia Mundial da Poesia

[HÁ-DE FLUTUAR UMA CIDADE NO CREPÚSCULO DA VIDA]

há-de flutuar uma cidade no crepúsculo da vida
pensava eu... como seriam felizes as mulheres
à beira mar debruçadas para a luz caiada
remendando o pano das velas espiando o mar
e a longitude do amor embarcado

por vezes
uma gaivota pousava nas águas
outras era o sol que cegava
e um dardo de sangue alastrava pelo linho da noite
os dias lentíssimos... sem ninguém

e nunca me disseram o nome daquele oceano
esperei sentada à porta... dantes escrevia cartas
punha-me a olhar a risca de mar ao fundo da rua
assim envelheci... acreditando que algum homem ao passar
se espantasse com a minha solidão

(anos mais tarde, recordo agora, cresceu-me uma pérola no
coração. mas estou só, muito só, não tenho a quem a deixar.)

um dia houve
que nunca mais avistei cidades crepusculares
e os barcos deixaram de fazer escala à minha porta
inclino-me de novo para o pano deste século
recomeço a bordar ou a dormir
tanto faz
sempre tive dúvidas que alguma vez me visite a felicidade



 in O MEDO
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11 janeiro 2014





eras novo ainda
mal sabias reconhecer os teus próprios erros
e o uso violento que de noite eu fazia deles

esta cama de minerais acesos
escrevo para despertar a fera de sol pelo corpo
escorrem aves de cuspo para a adolescência da boca
e junto ao mar existe aquele lugar perdido
onde a memória te imobilizou

enumero as casas abandonadas ao sangue dos répteis
surpreendo-te quando me surpreendes
pela janela espio a paisagem destruída
e o coração triste dos pássaros treme

quando escrevo mar
o mar todo entra pela janela
onde debruço a noite do rosto tocado ... me despeço

in Salsugem


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05 dezembro  2013

Olhares de Golgona Anghel sobre Al Berto


A escritora Golgona Anghel esteve na nossa escola, no dia 20 de novembro, para conversar com os alunos do 10.º ano, do 1.º ano do curso profissional e de PLNM, e para partilhar connosco os seus "olhares" sobre o poeta Al Berto. A sala ficou cheia e os alunos adoraram, apesar de terem colocado poucas questões... ´

Também contámos com a presença da Lai, irmã do poeta, e de alguns convidados.












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09 novembro  2013

Possíveis leituras para preparação da sessão "Olhares sobre Al Berto" (2.ª edição) com a escritora Golgona Anghel...

Estas são as obras publicadas pela nossa convidada. A sessão vai acontecer no dia 20 de novembro, pelas 11 horas. 

- Eis‐me acordado muito tempo depois de mim, uma biografia de Al Berto (Quasi Edições, 2006) 




"Eis-me acordado muito tempo depois de mim, de Golgona Anghel, é um livro/biografia que captura a poética e o esplendor da vida/escrita de Al Berto, registos desenvolvidos com vivacidade. São retratos, leituras irónicas honestas, informativas e obtusas, fragmentos do real e do mundo ficcional, retratos para serem apreciados ou devorados feito a escritura do biografado. A biógrafa soube, delicadamente, mapear as várias vidas numa só de Alberto Raposo Pidwell Tavares." (Rodrigo da Costa Araújo)

Cronos decide morrer, Leituras do tempo em Al Berto (Língua Morta, 2013).
 


"INSTANTE OU PROCESSO, passagem ou passamento, experiência em negativo do ser, impossibilidade, excepçãp ou hábito, a angústia perante o desconhecido ou a culpa do sobrevivente, temporária ou eterna, grito ou apenas um rumor de fundo, são algumas das caras rotineiras que a cabeça da morte vai ensaiando. Mas de que modo isso se dá na obra de Al Berto?" (Golgona Anghel)

- Edição de Al Berto - Diários (Assírio e Alvim, 2012)




"Editamos textos que não foram preparados para a edição pelo autor. Vamos mostrar o registo diário de algo que servia para um uso pessoal e íntimo. Estamos perante um corpus que se expõe a si mesmo, que se dá no ritmo efervescente da criação mas também na sua fragilidade, na dúvida, no inacabado." (Golgona Anghel)

-  Crematório Sentimental - Guia de Bem-Querer (Quasi Edições, 2007)





"O presente Guia de Bem-Querer deve ser entendido como um instrumento de trabalho elaborado com o objectivo de pemitir às partes apresentar os seus articulados e alegações orais na observância das formalidades que o Código do Trabalho Poético considera mais adequadas. Ao mesmo tempo será dado destaque à prática processual seguida pelo Poeta. Em contrapartida, este Guia não se destina a dar instruções estilísticas nem a substituir o corpo das disposições em vigor. (...) o Guia não garante sucesso absoluto nem se responsabiliza pelas eventuais relações contenciosas a decorrer da aplicação do mesmo."

-  Vim porque me pagavam, (Mariposa Azual, 2011)




VIM PORQUE ME PAGAVAM, e eu queria comprar o futuro a prestações. Vim porque me falaram de apanhar cerejas ou de armas de destruição em massa. Mas só encontrei cucos e mexericos de feira, metralhadoras de plástico, coelhinhos de Páscoa e pulseiras de lata. (...) -  Como uma flor de plástico na montra de um talho (Assírio &Alvim, 2013)


ENCONTRADO NUM CONTENTOR DE RUA, sem cavalo e sem reino, o músico, quase cego, quase surdo, começa o seu turno, ainda perseguido pela última garrafa de tinto. (...) ___________________________
Golgona Anghel nasceu na Roménia, em 1979, mas vive há anos em Portugal, onde estabeleceu residência. Licenciou‐se (2003) em Estudos Portugueses e Espanhóis na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, é pós-graduada em Estudos Europeus - Direito Comunitário (2004), vertente jurídica, pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa e doutorada (2009) em Literatura Portuguesa Contemporânea , na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. 
O tema da sua tese foi A Metafísica do Medo - Leituras da Obra de Al Berto.

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08 novembro  2013

A escritora Golgona Anghel vem à escola falar de Al Berto, mas também  da sua poesia...


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23 novembro  2012

Para comemorar o dia do patrono, promoveram-se várias atividades: - Inauguração da sala "Os dias sem ninguém" (nome de um poema do patrono); - Reestruturação da apresentação do nome das salas a partir de poemas e obras do poeta. - Presença de amigos e familiares (ir para conversarem com os alunos do 10.º ano, trata-se de "Um outro olhar sobre Al Berto". A partir deste ano, as atividades de comemoração do dia do patrono passarão a intitular-se "Olhares sobre Al Berto"; - Projeção dos trabalhos dos alunos para a construção do "Cantinho do Al Berto".





A jornalista do Público, Raquel Ribeiro, esteve presente na sessão "Olhares sobre Al Berto" e escreveu o seguinte: (...) Na Escola Secundária Poeta Al Berto, celebram-se dez anos de patronato. Vem Cristina Pidwell Tavares, irmã de Al Berto, emocionada com a homenagem dos alunos. "Esta é que é a verdadeira casa do poeta", diz. Cada sala, um verso de Al Berto. Pelos recantos, pequenas homenagens. Viver em Sines é assistir à ausência de Al Berto pelas ruas, mas chegar aqui é encontrá-lo, de novo, vivo nas palavras. (...) Artigo completo: aqui

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Al Berto em Sines / Al Berto na escola secundária




Publicação do folheto que pretende "Divulgar Al Berto". Este projeto também foi concretizado pelos alunos dos cursos profissionais 3.º TT e 3.º TSSMA, no âmbito do modulo 9 da disciplina de francês.


Resulta de uma recolha de informação realizada pelos alunos em Sines e na escola, sob a orientação da professora Cristina Simões.
                                       
      
Folheto  em PDF (aqui)















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11 janeiro  2012

No dia do aniversário do nascimento do patrono, foi inaugurado o "Cantinho de Al Berto" na Biblioteca Escolar.





Os alunos do 3.º ano dos cursos profissionais, no âmbito do módulo 9 "À volta de um projeto", da disciplina de francês, conceberam e criaram este espaço para destacar a obra do poeta na BE. 


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23 novembro  2011

Comemoração do 10.º aniversário do dia do patrono.    

- Posters "7 Travessias de uma vida/7 Parcours d'une Vie". Este trabalho foi realizado pelos alunos do 11.º ano, na aula de francês. - Marcadores idealizados e criados pelas alunas do 10.º ano, na aula de francês. - Seleção de fotos e frases do patrono para decoração do interior de algumas salas, na aula de português do básico.


Marcadores - frente e verso (português e francês)

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23 novembro  2010


Mais um painel (escrita do poema e desenho da foto)  realizado pelos alunos do 10.º ano de francês e ilustrado pelos restantes alunos da escola. Trata-se do poema "Sixième demeure du silence". 
O painel integrava uma exposição com três grandes fotos do patrono (cedidas pelo CCEN), trabalhos de alunos de anos anteriores, textos  e outros objetos alusivos ao poeta. 
No final do dia, realizou-se um recital de poesia com textos em português e francês, lidos pelos alunos do 10.º ano. Os alunos contaram com o apoio dos familiares e professores que estiveram presentes na sessão.
Retrospetiva fotográfica:


6
hoje é o sexto dia 
sexta morada do silêncio 

anotar os nomes das flores e 
suas significações emblemáticas 
     absíntio/amargura, tristeza 
     asfódelo/coração abandonado 
     cinerária/dor de coração 
     glicínea/ternura 
     junquilho/melancolia 
     silindra/ recordações 
anotar os nomes das areias e das argilas mais profundas 
os nomes dos insectos e dos minerais 
as marcas discretas das coisas cortantes 
e recopiar algumas palavras de Amers: 

         …Toi que j’ai vu dormir dans ma tièdeur de 
         femme, comme un nomade roulé dans son étroite 
         laine, qu’il te souvienne, ô mon amant, de toutes 
         chambres ouvertes sur la mer où nous avons aimé. 

manter a imobilidade absoluta dos rochedos 
recear as falésias onde a lua abriu um sulco 
tactear teu rosto disperso pelos ventos 
recolher a dor na penumbra do entardecer 

 anunciar a noite com a ponta dum punhal de veludo 
espiar o frémito súbito das estrelas…reler tudo 
mantendo o corpo em surdina 

Al Berto, O Medo (2ª ed.), Lisboa, Assírio & Alvim, p. 256.

6 

aujourd'hui c'est le sixième jour 
sixième demeure du silence 

noter les noms des fleurs et 
leurs significations emblématiques 
     absinthe/amertume, tristesse 
     asphodèle/ coeur abandonné 
     cinéraire/ douleur au coeur 
     glycine/ tendresse 
     jonquille/ mélancolie 
     seringat/ souvenirs 
noter les noms des arènes et des argiles plus profondes 
les noms des insectes et des minéraux 
les marques discrètes des objets coupants 
et recopier quelques mots d' Amers: 

                …Toi que j’ai vu dormir dans ma tièdeur de 
                femme,  comme un nomade roulé dans son étroite 
                laine, qu’il te souvienne, ô mon amant, de toutes 
                chambres ouvertes sur la mer où nous avons aimé.

maintenir l'immobilité absolue des rochers 
craindre les falaises où la lune a creusé un sillon 
tâter longuement ton corps écartelé par les vents 
recueillir la douleur dans la pénombre du soir 

annoncer la nuit avec la pointe d'un poignard de velours 
épier le frémissement subit des étoiles... tout relire 
le corps maintenu en sourdine. 

 Al Berto, Salsugem, l'Escampette, 2003, p.14


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Durante a semana da escola, foi ainda concretizada a 1.ª edição de "Uma aventura na escola".  Trata-se realmente de uma aventura, já que é um dia sem aulas, mas com muitas atividades promovidas pelos diferentes grupos disciplinares, parceiros, encarregados de educação, entre outros, numa verdadeira  interação entre a escola e o meio. 
O grupo 300, como atividade da sua "estação" apresentou um poema lacunar e um puzzle da foto de Al Berto. 




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23 novembro  2009


O painel “Les Mots d’Al Berto,” elaborado pelos alunos de Francês do 11.º ano, foi exposto no átrio dos Serviços Administrativos, com o poema  do nosso patrono, "Le Plus Grand Calligraphe". O painel foi ilustrado, ao longo da semana, por alguns alunos de Francês de outras turmas. Durante o tempo de exposição, foi divulgado o mesmo poema musicado por Wordsong.
        

Le plus grand calligraphe 

les mots. 
les motsfruits les motsjus les mots à mordre les mots à tordre les mots à jouir les mots à cuire les mots voyage les mots 
des noms 
voici des noms: Nerf-Kid = Tangerina = Kalou on Ice = Oli = Salive = Henriette Rock = A. Petit-Pieds = Peter Schlagger = mon fruit à mordre, toutes les heures 
l'astronaute halluciné l´exil et l´après-exil l´écriture l'astronaute halluciné l'exil et l'après exil l'écriture un espace les mots fous mordre les fous mordre les mots qui bavent du corps 
les textes le même texte toujours un autre même texte... 
le mirage du corps déserté je l´observe 
un texte de sable qui flotte avez les grands vents l´eau la mer et l'océan plus vaste 
l'écriture humide des algues sous les marées de lune la mer marchée dans la transpiration du sel des fruits de l´eau les fruits de mer 
les fruits de l´air 
un espace suicidaire une véranda la gare la ville le port la peau la peau de nuit 
les fleurs en tissu fané les oripeaux d’organdi les transparences transparentes comme une toile d’araignée 
l’accident les dérives un corps de femme-homme un corps sans sexe étendu sur un lit pauvre d’un quelconque hôtel acidulé 
écrire 
écrire jusqu’à l’épuisement épuiser le corps saturer le texte écrire les mots sucrés qu’on ne peut plus comprendre 
écrire de façon à ne plus comprendre ce qui a été écrit 
oublier 
sauter dans l’espace-temps des voies lactées 
l’anecdote du discours ne fait plus rire c’est la tragédie du vécu-exagéré 
les lieux de sainteté les bouches du métro aux couleurs d’essence et d’entrailles 
les caresses ensanglantées de la ville des jambes élancées dans le vol le sifflement nocturne des villes 
je n’explique jamais 
je ne suis que le chroniqueur de ma viemorte 
la peur commence à la surface de la peau
Kalima prisionniére dans la chambre-mémoire un regard de papillon nu c’est la métamorphose des étoiles 
avant c’étail moi/je maintenant il/elle et demain nous sans sexe images aux couleurs sensitives 
les mains en sont son écran la voyante marche le livre du chaos sous le bras ensanglanté (des lettres oui des lettres qu’on salive amoureusement) 
le pélerin marche 
ses pas calligraphient la mort sur les sables durs de la nuit 
une étoile d’essence 
le désert 
il est le plus grand calligraphe il traverse 
je répète : il traverse sans peur 

 in O Medo, Al Berto (pp.77-78, 2000)

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23 novembro  2008

Mais uma turma do curso profissional de Animador Sociocultural envolvida na construção de um livrinho sobre o nosso poeta. É importante partilhar a sua escrita. E esta é uma belíssima forma de a perpetuar.


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23 novembro  2007

Neste ano, para assinalar a data, realizou-se uma exposição no átrio da escola alusiva ao patrono. 

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23 novembro  2006


Para celebrar mais um aniversário do dia do patrono foi inaugurado o painel Mar de Leva. Esta atividade, entre outras,  integra a "Semana da escola". No final houve um jantar de homenagem a três aposentadas... a decoração do bolo tinha uma foto de Al Berto. 








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23 novembro  2005


Ao longo deste ano letivo um grupo de alunos, orientados por duas professoras, realizaram um painel de cerâmica inspirado no texto do patrono,  Mar de Leva. Destacam-se algumas fotos tiradas durante a execução do trabalho.


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23 novembro  2004


Para marcar o 3.º aniversário, a biblioteca expôs as obras e outros objetos alusivos ao patrono. 


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23 novembro  2003

  Este ano, o aniversário foi assinalado com uma exposição de trabalhos de pintura e escultura realizados pelos alunos: "Os Al Bertos".


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23 novembro  2002 

Comemoração do 1.º aniversário 


Como o dia 23, dia do patrono, coincidiu, este ano com um sábado, o aniversário foi celebrado no dia 22. Para marcar a data foram desenvolvidas várias atividades que envolveram alunos, professores, encarregados de educação, familiares do patrono e convidados  e parceiros. Contámos com o apoio da Câmara Municipal e do Teatro do Mar. A imprensa local esteve presente. 


Reportagem fotográfica:



Recortes da imprensa local: 



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16 novembro  2002 

Publicação do Despacho n.º24 483/2002 (2.ª série), de 16 de novembro


"Atendendo ao exposto, é justa a proposta do conselho executivo da Escola Secundária com 3.º Ciclo do Ensino Básico de Sines, após obtida a concordância da Câmara Municipal, no sentido de atribuir o nome Poeta Al Berto àquele estabelecimento de ensino.
Assim, preenchidos que estão os requisitos e demais formalidades previstos no Decreto-Lei 387/90, de 10 de Dezembro, com as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei 314/97, de 15 de Novembro, determino que a Escola Secundária com 3.º Ciclo do Ensino Básico de Sines passe a denominar-se Escola Secundária com 3.º Ciclo do Ensino Básico Poeta Al Berto, Sines. 15 de Outubro de 2002. — O Secretário de Estado da Administração Educativa, Abílio Manuel Pinto Rodrigues de Almeida Morgado" Extracto do Diário da República original (PDF)

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23 novembro  2001 Atribuição do nome "Poeta Al Berto" à escola secundária de Sines



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Vida e Obra


Al Berto, pseudónimo de Alberto Raposo Pidwell Tavares, nasceu em Coimbra em 1948, e passa a sua infância a adolescência em Sines. Exila-se em Bruxelas durante os anos da Guerra Colonial onde prossegue os seus estudos nas Belas Artes. Regressa a Portugal em 1975, após o 25 de Abril.
Em 1970 abandona definitivamente a Pintura, muito embora subsista o interesse pelas Artes Gráficas e pela Fotografia.
Começa a publicar com regularidade nos finais da década de 70: "Mar de Leva" (1976), sete textos dedicados à Vila de Sines; "À Procura do Vento num Jardim d' Agosto" (1977); "Trabalhos do Olhar" (1982); "Salsugem" (1984); "Uma Existência de Papel" (1985).
Todos estes títulos de poesia são reunidos em 1987 sob uma única publicação "O Medo" que lhe granjeou o Prémio PEN-Clube de Poesia. Em 1988 envereda pela prosa com "Lunário" e, mais tarde, em 1993, publica "O Anjo Mudo".
Em 1991, "A Secreta Vida das Imagens", inspira-se na obra de artistas clássicos e contemporâneos, nacionais e estrangeiros: Giotto, Van Gogh, Chagall, Andy Warhol, Mário Cesariny, Cabrita Reis, Ilda David. Em 1995, publica o seu mais recente livro de poesia, "Luminoso Afogado".
O reconhecimento público da sua vasta obra culminou em 1992 com a atribuição por parte de Sua Excelência o Presidente da República do grau Oficial da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada, no dia 10 de Junho, Dia de Portugal e das Comunidades.
Exerceu ainda funções de Animador Cultural da Câmara Municipal de Sines e Director do Centro Cultural Emmerico Nunes.
Foi convidado por várias vezes para representar oficialmente Portugal em manifestações de divulgação da Cultura Portuguesa: Belles Etrangères, Europe à livre ouvert, Le Portugal à Bordeaux, em França, e Europália 91, na Bélgica.
Foi-lhe concedida Medalha de Mérito Municipal, em 1995, não só pelo trabalho de inovação prestado à Cultura Portuguesa mas, também, à nossa terra (Sines), pelo superior desempenho de um nosso conterrâneo numa área cujo sucesso e notoriedade são demasiadas vezes glórias póstumas de um futurismo incompreendido.
O Poeta leu excertos da sua obra poética na altura da entrega da medalha.
Publica o seu último livro "Horto de Incêndios" em Março de 1997.
Faleceu em Lisboa a 13 de Junho de 1997.
GIRP / C.M.S. Obra: Poesia À Procura do Vento num Jardim d'Agosto. Lisboa: 1977. Meu Fruto de Morder, Todas as Horas. Lisboa: 1980. Trabalhos do Olhar. Lisboa: Contexto, 1982. O Último Habitante. Lisboa, 1983. Salsugem. Lisboa: Contexto, 1984. A Seguir o Deserto. Lisboa: & etc., 1984. Três Cartas da Memória das Índias. Lisboa: 1985. Uma Existência de Papel. Porto: Gota d'Água, 1985. O Medo (Trabalho Poético 1974-1986). Lisboa: Contexto, 1987. O Livro dos Regressos. Lisboa: Frenesi, 1989. A Secreta Vida das Imagens. Lisboa: Contexto, 1991. Canto do Amigo Morto. Lisboa: 1991. O Medo (Trabalho Poético 1974-1990). Lisboa: Contexto, 1991. Luminoso Afogado. Lisboa: Salamandra / Casa Fernando Pessoa, 1995. Horto de Incêndio. Lisboa: Assírio & Alvim, 1997. O Medo. Lisboa: Assírio & Alvim, 1998. Prosa Lunário. Lisboa: Contexto, 1988. O Anjo Mudo. Lisboa: Contexto, 1993. Diários
Diários. Lisboa.  Assírio & Alvim, 2012 (edição e apresentação Golgona Anghel)

Traduções: Castelhano Doce señales. Trad. Adolfo Navas. Madrid: Cuaderno de Poesía Portuguesa, 1989. Una Existencia de Papel. Trad. Ángel Campos Pámpano. Valencia: Pre-Textos, 1993. La secreta vida de las imágenes. Trad. José Luis Puerto, Amarú Ediciones, 1997. Francês Voyage d'un Portugais avec un stylo en Cévennes. (Viagem de um Português com uma Caneta nas Cévennes). In Les itinéraires littéraires en Corèze. Ed. Jacques Brémond, 1989. Chant de l'ami mort /Canto do Amigo Morto (ed. bil.). Lisboa: Europália, 1991. La peur et les signes (anthologie). Trad. Michel Chandeigne. Bordeaux: L'Escampette, 1993. La secrete vie des images. Trad. Jean-Pierre Leger. Bordeaux: L'Escampette, 1996. Inglês (A Secreta Vida das Imagens). Trad. Richard Zenith. Dublin: Mermaid Turbulence, 1997 Italiano Lavori dello sguardo. Trad. Carlo Vittorio Cattaneo. Roma: Florida, 1985.

15 comentários:

  1. A História da nossa escola foi aqui reconstruída através de memórias sentidas, vividas e agora... partilhadas de uma forma brilhante.
    Parabéns pela excelente organização que nos permite viajar no tempo e... recordar.
    CS

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  2. Obrigada, Cristina. É agradável reviver estes momentos e a partilha é, neste caso, a melhor forma de manter viva a memória de todo um trabalho desenvolvido ao longo destes 14 anos.
    Graciosa Reis

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  3. Belíssimo trabalho
    Vi, revi e à memória voltaram tantos anos, tantas vivências!
    Obrigada
    Lai

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  4. Ainda bem... a intenção é essa... partilhar as nossas vivências e legá-las aos outros que não tiveram oportunidade de as viver.
    Graciosa Reis

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  5. Como alguém que pouco sabia sobre Al Berto até há poucos meses atrás, aqui está um trabalho de compilação que me permite conhecê-lo bem melhor, bem como ter uma visão sobre todas as atividades comemorativas desenvolvidas pela escola, as quais considero bastante diversificadas. Sinto-me feliz por ter participado no tratamento de alguns (pouquitos...) documentos aqui partilhados. Gostei especialmente do vídeo síntese "Olhares sobre Al Berto" (e de ouvir a voz da nossa querida Graciosa). Obrigada pelo legado.

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    1. Obrigada Tânia, por partilhares a tua opinião. Quanto à tua participação, por pequena que seja, é sempre uma mais valia.

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  6. Tantas atividades... Só com a publicação destas memórias é que temos a perceção daquilo que já foi feito para homenagear o nosso poeta Al Berto.
    Ainda bem que houve este desafio/convite e que a equipa da biblioteca realizou este belo trabalho. Magnífico!
    Parabéns a todos que participaram direta ou indiretamente.
    Célia Alves

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    1. É verdade Célia, os anos passam, realizam-se atividades, mas perdemos a noção do que é feito...
      Em nome da equipa da biblioteca, agradeço as tuas palavras simpáticas.
      Graciosa Reis

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  7. Um belíssimo arquivo, com valor sentimental e também documental/académico. Múltiplas perspectivas sobre o autor e patrono. Um ótimo tributo a Al Berto e também à escola que adotou o seu nome!

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  8. Catorze anos de trabalho dedicado! Um arquivo que é simultaneamente um tributo... muito bom, muito bonito.
    Parabéns a todos os envolvidos!
    Cristina Roque

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    1. Cristina, a equipa da BE agradece o teu comentário.
      Graciosa Reis

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  9. Um excelente registo do trabalho realizado ao longo deste tempo, bem como da diversidade e da criatividade das várias iniciativas.

    Parabéns à equipa BE e votos de continuação de um ótimo trabalho.

    Luísa Feneja

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    1. Luísa, agradeço em nome da equipa.
      Graciosa reis

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  10. Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

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